quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Os Lençóis Herdados



Na semana passada aconteceu-me algo inédito, ao fazer a cama de lavado; o lençol de cima não estava dentro do armário, junto dos outros. Estaria por engano, entre os lençóis dos meus filhos, nos armários deles, pensei, porém, estando eles ainda a dormir não quis entrar, às escuras, a fazer ruídos, e portanto pus-me a ver qual lençol desemparelhado podia combinar com o de baixo, e as fronhas, até que subitamente tive a luminosa ideia de puxar da resma um lençol antigo, daqueles que a minha mãe me deu há anos, e outros da minha sogra, e nunca usei, nem pensei usar. 

O motivo era prático, aqueles lençóis requerem outros cuidados, mas ao pô-lo na cama, bem estendido, com a beira dobrada, exibindo o delicado bordado, com intrincados recortes, sorri para mim mesma satisfeita com o resultado. Mas o melhor estava ainda por vir; dormir naquele lençol é toda uma nova experiencia! O algodão antigo, alinhado, mais grosso, mas macio pelo desgaste dos corpos dos nossos familiares ( dito assim até parece um pouco impressionante, só que é no bom sentido!), proporcionou-me um sono reconfortante, apaziguador, como se fosse um bebé embrulhado, a dormir o sono dos justos. E nos dias seguintes, aquela sensação ao deitar-me continuou a maravilhar-me, o que provou não ser efeito dos lençóis lavados, que também é outra coisa que me proporciona um estado de felicidade singular. 

Esta semana voltei a fazer a cama com outro lençol de herança, desta vez propositadamente. Acho que os vou experimentar a todos. É tão bom dormir neles, não me interessa a praticidade, descobri que é um luxo que estou disposta a pagar.