segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Dica de Leitura - Christmas at Fairacre



Em Dezembro pareceu-me indicado ler um livro cuja temática fosse o Natal, para me ajudar a entrar no espírito da época. Claro que o retratado pouco tem a ver com a nossa realidade, passa-se nos anos 70, em Inglaterra, Natal na estação mais rigorosa, com neve e grandes tempestades, e as formas de o celebrarem também divergem da nossa, mas eu aprecio muito estes modos anglo-saxónicos, e consegui visualizar tudo perfeitamente, não apenas devido à narrativa tão descritiva como também aos encantadores desenhos, que a preto e branco ilustraram, perfeitamente, as histórias. 

Miss Read é o pseudónimo de Dora Saint, nascida em 1913 em Londres, que foi uma autora bestseller. Os seus contos retratavam o mundo rural como um lugar seguro e sadio, sendo uma extensão da sua própria vida, enquanto professora no campo. Com um enorme talento para notar  as maravilhas da vida na aldeia, narra-as de forma simples mas imensamente significativa; publicou as suas histórias durante décadas, encantando diversas gerações. 

Os seus livros foram traduzidos para diversas línguas, infelizmente não para Português. Mais outra falha com a qual não me conformo, porque adorei esta leitura! A apologia da vida rural, a valorização das pequenas coisas, a alegria que tudo isso proporciona é-me tremendamente cara. 

"Christmas at Fairacre" está composto por 3 histórias independentes, todas elas passadas em Fairacre, terra ficcional; na primeira, uma viúva solitária arrenda um anexo a uma jovem solteira, a quem precisamente no Natal lhe é solicitada ajuda urgente em casa do irmão, à qual ela acede; o que aí vive irá permitir-lhe descobrir uma mais justa faceta da cunhada, por quem não tinha grande apreço, e a reaproximação ao irmão, permitindo-lhe compreender as alegrias da vida familiar. 

A segunda, muito pequena, remete para uma cena passada na Escola, com Miss Reed, também durante o Natal, que retrata a magia da época em pouquíssimas palavras. 

A terceira história, a minha favorita, "The Christmas mouse", conta sobre uma família de 3 gerações de mulheres, a avó, Mrs Berry, a mãe, Mary, e as suas duas filhas, de 7 e 5 anos, na véspera e dia de Natal. Lá fora está uma enorme tempestade, mas ainda assim Mary sai com as filhas, apanhando a camioneta para Caxlon, para fazer as compras de Natal. Em casa, Mrs Berry, recorda-se dos eventos que antecederam as circunstâncias presentes, com alguma tristeza mas estoicamente. Quando a filha e netas regressam, encharcadas até aos ossos, tomam banho, jantam algo ligeiro e vão para a cama, e então começa a aventura nocturna com a entrada de um rato no quarto da velha senhora, que tem fobia a ratos, e a faz permanecer na sala, junto à lareira, tencionando aí dormir; precisamente por aí estar se apercebe da entrada de outro tipo de rato, na cozinha. Essa peripécia ficará só entre Mrs Berry e o dito "rato". E o leitor, claro. 

Com a descrição da celebração do Natal descobrimos quão singela era, fosse no que diz respeito a presentes, fosse à ementa. Os presentes eram colocados nas fronhas das almofadas, penduradas ao fundo das camas das crianças, e incluíam tangerinas, nozes, caramelos, lenços com a inicial bordada, e com sorte uma boneca ou um conjunto de chá em miniatura. O jantar compunha-se pelo peru assado, e bolo de Natal, e ao chá, havia bolo de Madeira, sendo já este uma espécie de jantar. Parco para o gosto português, mas para mim faz todo, e cada vez mais, sentido. 

A decoração de Natal da casa também é descrita, guirlandas por cima da lareira, com castiçais que se acendem no dia de Natal, e a árvore, que de tão pequena, ficava pousada em cima de uma mesa. Isto fez-me lembrar a história real que ouvi de uma mãe, ao lembrar-se da vergonha da filha devido ao tamanho da árvore de Natal que tinham em casa, um tamanho normal, mas segundo ela, deveria chegar ao tecto; influencias dos filmes da televisão, que levam, frequentemente, a exageros e insatisfações. 

Esta leitura fez-me reflectir sobre a simplicidade dos Natais de outrora, que entusiasmavam mais do que os actuais com os seus exageros em tudo, em que cada ano se espera mais e melhor, e mais caro! 

Christmas at Fairacre relembra aos adultos que grande parte da magia de Natal nos é proporcionada pelas crianças, aquelas que fomos e aquelas que temos agora presentes, filhos e netos, é nos olhos deles que vemos reflectida a alegria e entusiasmo desta época. É por eles, que muitos de nós, continuam a viver o Natal. 


Título: Christmas at Fairacre

Autora: Miss Reed

Editora: OrionBooks UK

Nr de Págs: 263


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