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Dica de leitura de Miranda Mills |
O que me atraiu neste livro foi a localização, ou o tema central, quer dizer, uma cottage parecia ser a personagem principal, e o local onde estava inserida, o campo inglês, para mim isto é irresistível.
É uma espécie de diário, livro de apontamentos, de investigação, que começa quando Gavin Plumley, um declarado citadino, decide mudar-se para o campo, com o seu marido, Alaistair, por sua vez, um verdadeiro homem do campo. Na busca pela casa perfeita, encontram Steps House em Pembridge, num canto remoto de Inglaterra, pela qual se apaixonam imediatamente, e assim a adquirem.
Ao fazer o seguro para Steps House são confrontados com a necessidade de saberem a idade da casa, inicialmente do Séc.XVIII ( porém dando sinais de mais antiguidade), e começa assim uma investigação que vai levar o autor através da História da casa, de Pembridge, da Inglaterra e até um pouco da Europa.
Pembridge é uma aldeia antiga, que já na Idade Média tem registos, da actividade agrícola e pastoral, que está na base do seu enriquecimento mas que também sofreu grandes vicissitudes.
Interessaram-me imenso certas curiosidades, que ainda actualmente impactam, como por exemplo, a referência ao azevinho, abundante na aldeia, e que hoje em dia é muito mais abundante do que na época, ao contrário daquilo que nos dizem! Aliás, menciona ainda Plínio, o Velho, romano, nascido no ano 23, que escreveu "o azevinho é raro, e quando encontrado, recolhido com toda a cerimónia".
O azevinho era tido como protector contra os maus espíritos, talismã de sorte e até cura para a melancolia. Foi rapidamente capturado pela religião, usando-o decorativamente no Natal, apesar de ainda reter a sua primeva associação à fertilidade, com a viscosidade das bagas comparada ao sémen.
Gavin Plumley explica que este arbusto necessita de luz e com a deflorestação das florestas, os espaços por onde a luz entra é muito maior. Pode até ser, mas eu também penso que o facto das pessoas o terem nos seus jardins justifica em muito o azevinho ser tão comum.
Steps House é vizinha imediata do cemitério, e da igreja local, onde Gavin também procura informação; propósito do despojamento das igrejas protestantes, elas não eram assim originalmente, eram como as católicas ( pois eram católicas), porém, os reis que fundaram e cimentaram o Protestantismo, entenderam, sobretudo Eduardo, nas Reformas no séc.XVI, que as pessoas não deveriam adorar imagens e por isso foram recolhidas, para sua alteza real; estes bens das igrejas representava uma riqueza colossal, com a arte, os objectos de ouro e prata, que assim foram legalmente confiscados, perante a indignação do povo, que não teve outra opção senão render-se. As mudanças também proibiram as procissões, e o toque dos sinos, para as missas; posso, facilmente, imaginar quanto tudo isto afectou a população, dado que as procissões tinham o objectivo de agradecer pelas colheitas e pedir abundância, para as seguintes. Por essa época, diversas actividades foram abolidas, como por exemplo a dança, que as entidades religiosas viam como pagãs, e que levavam a actos pecaminosos, sendo por isso os seus infractores castigados seriamente. Como não haveriam de ficar deprimidos?!
Outra coisa que sempre me fascinou imenso, e desconhecia o porquê, é a popularidade dos Pubs em Inglaterra. Ainda, actualmente, ir ao Pub é uma prática comum, fortemente enraizada, e na sua origem está o frio das casas! Apesar de todas as casas terem lareira, eram frias, a do pub estava permanentemente acesa, tornando a divisão quente e aconchegante. Além disso, era também onde as pessoas podiam socializar, e assim espantar e melancolia do Inverno ( a depressão nessa estação existiu sempre), sendo que beber um fino era apenas o pretexto para tudo isto!
Na Idade Média, Pembridge estava muito isolada, para mais a Lei inglesa proibia que as pessoas trespassassem campos e florestas pertencentes ao Estado, o que tornava as viagens para levar o gado ao mercado londrino, coisa de meses, e isolava a localidade, obrigando-os a comercializar entre si. Recentemente, aconteceu uma espécie de regresso ao passado. Como o casal já passou o "confinamento" de 2020 na aldeia, perceberam ainda mais então a importância de comprar localmente, e apoiar os produtores locais. Isso para mim já está mais do que assente, porém gostaria muito que todos tivessem tido essa descoberta, e mudassem de atitude. Gostei desse alerta.
A propósito das "alterações climáticas", o autor refere a mini-idade de gelo que assolou a Europa no séc.XVI, que provocou escassez de bens alimentares, e consequentemente mortes em grande número, referindo que animais congelaram repentinamente, nas posições em que se encontravam. Dizem as notícias que algo semelhante se prevê em 2030, eu penso que sem alarme aguardemos porque o futuro é sempre incerto, e contudo, estas coisas já aconteceram antes, sem industrialização, nem aviação. São ciclos naturais.
Recorrendo aos arquivos religiosos e civis, às canções populares, poesia e arte, referindo sobretudo Bruegel, cujos quadros detalhavam minuciosamente as actividades dos camponeses, providenciando assim valiosa informação sobre a vida e estações no séc.XVI, o autor constrói com esses fragmentos, uma manta de retalhos encantadora e informativa sobre uma era passada, que me proporcionou grande prazer ao lê-la, levando-me a reflectir também sobre a actualidade.
Por tudo isto, e muito mais, é uma leitura que recomendo, infelizmente, não há versão traduzida, mais uma vez. Em inglês compro na Blackwells, cujos preços já incluem imposto da alfandega, e assim não há retenções nem más surpresas.
Título: A Home For All Seasons
Autor: Gavin Plumley
Editora: Atlantic Books, London
Nr de Págs:309