quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Quando o Telefone era Fixo e Limitado

Esta nova geração está tão habituada a ter disponível um meio de comunicação ilimitado que nem conseguem imaginar como era não o ter. Desconfio que a grande maioria até desconhece que houve um tempo em que não era nada assim; que o único aparelho telefónico era comum a toda a família, que estava em casa, preso por um fio, e as comunicações feitas por ele eram apenas verbais e cada uma delas era paga, ao minuto, com tarifas crescentes, do local ao nacional, sendo as internacionais caríssimas, e por isso raramente se faziam; aliás, frequentemente, combinavam-se antecipadamente as horas e dias para esses telefonemas, pois a partir das 21h, ou aos fins-de-semana, as chamadas eram mais económicas.  

Portanto, as conversas tendiam a ser sintéticas e assertivas, eram para dar recados, para saber como a família e amigos se encontravam, dar os Parabéns, desejar Boas Festas, ou as melhoras. Não havia conversa de "chacha". E isso, parecendo que não, tem importância, tem e muita; o nosso cérebro focava-se no essencial, no que dizia e no que ouvia. 

A partilha de um só aparelho também tinha o seu quê de especial; as pessoas acorriam ao telefone para o atender, esperando que fosse para elas. Por vezes, quando a conversa interessava a toda a família, todos se encostavam ao auscultador o mais que podiam para ouvir em primeira voz as novidades, o nascimento de um bebé, o anúncio de um casamento, ou notícias mais tristes, como acontece na vida. 

Não sou saudosista, acho o telemóvel muito prático, mas também o vejo como um aparelho demasiado intrusivo, espera-se que esteja sempre connosco e que atendamos todas as chamadas, e que nos gasta demasiado tempo, por oferecer diversas funcionalidades, internet incluída. 

Como não gosto de falar ao telefone, tendo a encurtar todas as conversas, continua a ser, para mim, um meio de dar um recado. A única excepção que faço é para a minha amiga que vive na Alemanha, por razões óbvias. As pessoas reclamam que "nunca" atendo o telemóvel, o que não sendo verdade, lhes dá essa sensação por todas as pessoas atenderem mais do que eu. Simplesmente, deixo o telemóvel pousado algures, ele toca e acontece de não o ouvir, devido à casa ser grande, ou aos barulhos da casa abafarem o som. Não me preocupa nada, quando vejo o telefonema não atendido retribuo. Porém, quando o telefone era fixo estas queixas não existiam, as pessoas voltavam a ligar e em algum momento, alguém atenderia. Dessa postura sim, confesso que tenho saudades.