terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Legalização do aborto;porque eu voto NÃO

«Caímos tão fundo que atrever-se a proclamar aquilo que é óbvio se transformou em dever de todo o ser inteligente». (Georges Orwell)
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Se dediquei mais tempo a reflectir sobre o referendo e sobre qual seria o meu voto foi apenas porque num debate, uma pessoa que era obviamente a favor do aborto, disse: - “Não imponha a sua decisão aos outros, deixe-os decidir.” Na altura pareceu-me perfeitamente razoável.
Dizem que é correcto legalizar o aborto porque a mulher deve ter o direito de decidir o que fazer com o corpo dela, mas acontece que não é O corpo dela, mas NO corpo dela. E acontece também que no corpo dela, existe um ser que deve ter direito à vida.
"A criança, dada a sua imaturidade física e mental, precisa de protecção e cuidados especiais, incluindo protecção legal apropriada, tanto antes como depois do nascimento". (Declaração dos Direitos da Criança - aprovada em Assembleia Geral da ONU em 20.11.1959) .
Dizem que estão a defender os direitos da mulher, acontece que não defendem o direito à existência dos que não podem advogar a sua causa.
Dizem que o feto com 10 semanas não é ainda um ser humano. Acontece que a condição humana não é uma questão de tempo, é humano desde a concepção.
Dizem que assim se reduz o número de crianças que nascem em condições precárias e que terminam em instituições. Mas acontece que se estas crianças ficam nas instituições, é por incompetência do Estado que não é suficientemente rápido a entregá-las a pais adoptantes, que esperam anos por essa alegria. Não esquecer que nos países onde o aborto está legalizado também há crianças abandonadas.
Dizem que assim se evitam os assassínios de recém-nascidos; mas acontece que mesmo em países onde o aborto é legal, grátis e até incentivado, como na China, aparecem recém-nascidos no lixo.
Dizem que a nossa população está a ficar envelhecida e que a taxa de natalidade é preocupantemente baixa e acontece que querem legalizar o aborto!
Dizem que as listas de espera nos hospitais para operações de saúde são longas porque não há salas de cirurgia, etc, mas acontece que para fazer abortos este problema já não se põe.
Dizem que vão fechar 25 urgências em Portugal por falta de dinheiro, porém para proporcionar um serviço grátis de aborto, já ninguém fala de problemas económicos.
As prioridades não estão trocadas?!
Não conheço ninguém que num desabafo tivesse dito: - "oh, porque é que a minha mãe não fez um aborto quando engravidou de mim?!" Porque, ainda que não admitam, as pessoas amam a vida. Vamos agora recusar este direito a quem nada pode para o defender?
Eu não quero que as mulheres que fazem abortos sejam presas, nem que recorram a “habilidosas”, nem que fiquem com sequelas graves para toda a vida, nem que morram. Porém, não posso tão pouco ser conivente com elas. Se estou a observar alguém a cometer um delito, algo que é errado e não digo nada, estarei no mínimo a ser conivente. Se eu votasse a favor, só para dar aos outros a oportunidade de escolher, estaria a ser conivente.
Finalmente, eu sou contra o aborto porque acredito que é um atentado contra as leis de Deus, um atentado contra a vida, que é um legado divino. Será que isto me dá o direito de recusar ás outras pessoas que tenham o direito contrário? O que sei, é que ao fazer o referendo, o Governo está a pedir a opinião de todos e se eu tenho que opinar, a minha resposta não pode ser contrária ao que sinto e acredito.
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Não corteis uma flor. Asa cativa,
só deixará remorso em quem a corta.
Nada mais belo que uma rosa viva...
Nada mais triste que uma rosa morta...


(Moreira das Neves)

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História antiga

Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.
E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da nação.
Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.

(Miguel Torga)