Frequentemente as pessoas espantam-se como conseguimos visitar tantos museus, com as nossas crianças.
- Eles não se saturam? Perguntam-me.
Não. Respondo eu, porque utilizamos uma estratégia muito eficiente. Cada quadro que observamos ou admiramos conta-nos uma história; seja de fundo religioso, mitológico ou histórico, interessa sempre aos nossos pequenos. De tal modo que eles se antecipam a mim, na procura de algum quadro que lhes espicace a curiosidade. E puxam-me pela mão, impacientes, perguntando: - Qual é a história deste quadro, mãe?
Encontrei este no Musée des Beaux Arts em Lyon; desde logo me chamou a atenção, afinal retrata um momento mitólogico-histórico de Portugal, pela mão de um pintor francês. Esta deve ser provavelmente a nossa mais famosa "história" no estrangeiro.
O príncipe D.Pedro era filho do rei D. Afonso IV e viria a tornar-se rei de Portugal. Casou com a castelhana D.Constança, que trouxera no seu séquito, como dama da companhia, uma nobre muito bonita, chamada Inês. D.Pedro apaixona-se por ela e é (evidentemente) correspondido.
Abre parênteses: Como digo às minhas crianças, antigamente os casamentos dos reis eram feitos sem amor, eram contratos de aliança, com outros reinos, um negócio. Por isso, os príncipes se apaixonavam e tinham outras “namoradas” e às vezes filhos, com elas. Fecha parênteses.
Entretanto, D.Constança, convida Inês para madrinha do filho que tivera com D.Pedro, criando um laço de parentesco entre os dois, na expectativa de afastar os dois amantes. Porém, isso não aconteceu. O amor deles manteve-se. E aumentou, quando D.Constança morre de parto, e os dois amantes passam a viver juntos em Coimbra. Aí, numa existência idílica, nasceram os seus filhos: João, Dinis e Beatriz.
Ora D.Afonso IV ouvia dos conselheiros que o casamento entre o seu filho e D.Inês, poderia ser nefasto para o reino, uma vez que ela pertencia aos ambiciosos “Castros”, que de alguma forma poderiam pôr a independência de Portugal em perigo.
Finalmente, a 7 de Janeiro de 1355 o rei cedeu à vontade dos conselheiros, que queriam ver Inês morta, e numa altura em que D.Pedro partira para a caça, a amante do príncipe foi friamente degolada. Quando D. Pedro soube do acontecido, juntou nobres e povo, para fazer guerra ao rei, seu pai. Só não aconteceu porque a mãe, a rainha D.Beatriz, interveio.
Ao subir ao trono, D.Pedro, que não esquecera a tragédia de que ele e Inês foram vitimas, vingou-se dos responsáveis, mandando-os matar, com detalhes que poderá ler aqui. Por isso ficou na história como o “ o Justiceiro” para uns, e “ o Cruel”, para outros.
Em 1360, o rei, que entretanto dissera que ele e Inês se tinham casado em sigilo, mandou construir dois túmulos no Mosteiro de Alcobaça, um para ele, outra para D.Inês e mandou transladar os restos mortais da "rainha", de Coimbra, para lá.
Diz a lenda que o rei fez coroar D.Inês depois de morta, e obrigou a nobreza a beijar-lhe a mão.
A história divulgou-se entre o povo, inspirou poetas ( até o grande Camões a cantou nos Lusíadas: “mísera e mesquinha, que depois de ser morta foi rainha...”), e passou além fronteiras, inspirando peças de teatro, óperas, bailados, romances e quadros. Como este aqui, de Pierre-Charles Comte em 1849.
Esta é a história deste quadro.
Até breve!
- Eles não se saturam? Perguntam-me.
Não. Respondo eu, porque utilizamos uma estratégia muito eficiente. Cada quadro que observamos ou admiramos conta-nos uma história; seja de fundo religioso, mitológico ou histórico, interessa sempre aos nossos pequenos. De tal modo que eles se antecipam a mim, na procura de algum quadro que lhes espicace a curiosidade. E puxam-me pela mão, impacientes, perguntando: - Qual é a história deste quadro, mãe?
Encontrei este no Musée des Beaux Arts em Lyon; desde logo me chamou a atenção, afinal retrata um momento mitólogico-histórico de Portugal, pela mão de um pintor francês. Esta deve ser provavelmente a nossa mais famosa "história" no estrangeiro.
O príncipe D.Pedro era filho do rei D. Afonso IV e viria a tornar-se rei de Portugal. Casou com a castelhana D.Constança, que trouxera no seu séquito, como dama da companhia, uma nobre muito bonita, chamada Inês. D.Pedro apaixona-se por ela e é (evidentemente) correspondido.
Abre parênteses: Como digo às minhas crianças, antigamente os casamentos dos reis eram feitos sem amor, eram contratos de aliança, com outros reinos, um negócio. Por isso, os príncipes se apaixonavam e tinham outras “namoradas” e às vezes filhos, com elas. Fecha parênteses.
Entretanto, D.Constança, convida Inês para madrinha do filho que tivera com D.Pedro, criando um laço de parentesco entre os dois, na expectativa de afastar os dois amantes. Porém, isso não aconteceu. O amor deles manteve-se. E aumentou, quando D.Constança morre de parto, e os dois amantes passam a viver juntos em Coimbra. Aí, numa existência idílica, nasceram os seus filhos: João, Dinis e Beatriz.
Ora D.Afonso IV ouvia dos conselheiros que o casamento entre o seu filho e D.Inês, poderia ser nefasto para o reino, uma vez que ela pertencia aos ambiciosos “Castros”, que de alguma forma poderiam pôr a independência de Portugal em perigo.
Finalmente, a 7 de Janeiro de 1355 o rei cedeu à vontade dos conselheiros, que queriam ver Inês morta, e numa altura em que D.Pedro partira para a caça, a amante do príncipe foi friamente degolada. Quando D. Pedro soube do acontecido, juntou nobres e povo, para fazer guerra ao rei, seu pai. Só não aconteceu porque a mãe, a rainha D.Beatriz, interveio.
Ao subir ao trono, D.Pedro, que não esquecera a tragédia de que ele e Inês foram vitimas, vingou-se dos responsáveis, mandando-os matar, com detalhes que poderá ler aqui. Por isso ficou na história como o “ o Justiceiro” para uns, e “ o Cruel”, para outros.
Em 1360, o rei, que entretanto dissera que ele e Inês se tinham casado em sigilo, mandou construir dois túmulos no Mosteiro de Alcobaça, um para ele, outra para D.Inês e mandou transladar os restos mortais da "rainha", de Coimbra, para lá.
Diz a lenda que o rei fez coroar D.Inês depois de morta, e obrigou a nobreza a beijar-lhe a mão.
A história divulgou-se entre o povo, inspirou poetas ( até o grande Camões a cantou nos Lusíadas: “mísera e mesquinha, que depois de ser morta foi rainha...”), e passou além fronteiras, inspirando peças de teatro, óperas, bailados, romances e quadros. Como este aqui, de Pierre-Charles Comte em 1849.
Esta é a história deste quadro.
Até breve!