O bilhete, na sua caligrafia tremelicante, dizia :
- A mãe come minhocas.
- A mãe não sabe nada.
- A mãe é feia.
Inicialmente fiquei a olhar para "carta", pensando se deveria falar com ele diretamente, se me deveria mostrar triste, ou se deveria fazer de conta que aquele recado nunca tinha chegado ao destino.
Escolhi responder à carta. Peguei numa folha, e escrevi todas as frases, no sentido positivo:
- O Duarte come bifes, batatas fritas e feijão preto. ( A comida preferida na altura)
- O Duarte sabe o ABC e muito mais.
- O Duarte é muito bonito.
Entretanto, ele continuava no quarto, com certeza apreensivo, em relação à reação que eu teria. Fiz-lhe a mesma coisa, introduzi a carta por baixo da porta, e afastei-me. Passados alguns minutos, o Duarte estava junto de mim, com a folha na mão, e sem me dizer qualquer palavra abraçou-me.
E sem qualquer palavra mais, colocou a carta no seu quadro de cortiça. Onde está até hoje.
Quando as crianças são pequeninas, é muito comum, ao zangarem-se com os pais, dizerem aquele famoso: "Não gosto de ti!" ; os meus filhos também o disseram, mas muito poucas vezes. Porque não dava resultado. A cada vez que diziam "não gosto de ti!", recebiam como resposta:
- Pois eu gosto muito de ti. Aliás, gostar é pouco; gosto de batatas fritas. A ti, adoro-te. Amo-te. Mesmo quando me zango contigo, continuo a amar-te.
Isto desarma-os. Ao contrário da resposta que utiliza a mesma moeda, que só reforça o sentimento negativo que no momento a criança sente. Experimente.
Até breve!