segunda-feira, 23 de março de 2015

Modelos Contra Corrente

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Todas as vezes que uma estrela de Hollywood "rejuvenesce", mais radicalmente, dá notícia no telejornal. Foi assim com Uma Thurman, com Rennée Zellweger e com Catherine Zeta Jones. Outras vão rejuvenescendo mais gradualmente, empatando o tempo com mais diplomacia, e por isso não se fazem tão notadas. Dizem que é da maquilhagem, que apenas mudaram com a idade, não reconhecendo habitualmente o recurso à cirurgia estética.

É difícil aceitar a passagem do tempo, permitir-lhe deixar as suas marcas, e ter por elas orgulho e respeito. Raras serão as actrizes da meca do cinema preparadas para envelhecer naturalmente. Pergunto-me mesmo se existirão. E quem poderá recriminá-las? Dizem elas que os papéis para filmes diminuem substancialmente, desaparecendo mesmo, depois dos 30 anos. Então, a estratégia e permanecer indefinidamente na trintena. Além disso, a publicidade promove tão eficazmente a ideia da juventude, que qualquer mulher toma como seu objectivo primeiro a captura permanente da idade desejável. E este objectivo torna-se tão imperioso, tão absoluto, que abarca tudo na mente da mulher. Pela sua realização ela paga o preço que for, sem hesitar perde a sua identidade, as características que eram exclusivamente suas, que a tornavam única.

Uma cultura que descaracteriza, que formata o físico e a fisiologia, para que a mulher encaixe num estereótipo de massas, não merece tamanho reconhecimento. Porém, também a formatação mental é produto desta mesma sociedade, e as mulheres submetem-se aos seus padrões. 
E apenas porque estas transformações são demasiado onerosas para a grande maioria, o número que mulheres que as elas se submetem é ainda pouco expressivo. Não são poucas as mulheres que assumem que fariam cirurgias estéticas se tivessem condições financeiras para tal.

Portanto, quando surge uma estrela que pede para não retocarem as suas fotos, como Catherine Deneuve, e até Clara de Sousa, ou se afirmam frontalmente contra as cirurgias estéticas, como Daphne Selfe, eu sinto-me com um pouco mais de esperança.

A história de Daphne Selfe é bastante surpreendente; começou a sua carreira de modelo aos 20 anos, que durou apenas 5, quando casou e se retirou para criar os filhos. Ainda hoje lhe faz confusão que as mulheres não consigam dedicar-se inteiramente à família.
Uma década depois tentou regressar mas o seu tipo estava fora de moda. Foi aos 70 anos, com as rugas que a vida lhe deu, e os cabelos brancos, que deixara de pintar, que alcançou o reconhecimento na carreira. Desfila para as grandes marcas internacionais e trabalha com os estilistas mais prestigiados.
Aos 86 anos é considerada a modelo mais velha do Mundo, e não lhe falta trabalho. 

Envelhecer com semelhante graça, e respeito pelo tempo vivido, deveria ser cultivado como fé comum. Seria o reconhecimento de uma sociedade equilibrada e saudável. Promovamos, então, estes exemplos!