segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Viver na aldeia é bom!

 
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Há uns anos atrás, iniciou-se um movimento de pessoas que começaram  trocar a cidade pela aldeia. Sobretudo, jovens famílias que tinham concluído que a vida citadina não lhes proporcionava a qualidade que queriam. Queriam ter mais tempo, mais espaço, mais ar livre, pretendiam que os filhos fossem criados em contacto com animais, com flores e árvores, mexendo na terra e aprendendo sobre os ciclos da natureza. Queriam, também, ter uma vida de respeito pelo meio ambiente, utilizar o que a Terra dá segundo as Estações, poluir o menos possível, enfim, vivendo num estado de cooperação com a terra, e não de exploração. Além disto, havia ainda o facto da vida na cidade ter encarecido demasiado e a vida no campo ser muito mais económica. 
Relatos de famílias a deslocarem-se para esta forma de vida, eram recorrentes, nos meios de comunicação; as reportagens exibiam crianças felizes a brincar no meio de galinhas, e pais e confirmarem que a mudança os deixara felizes. Começava a consolidar-se uma mudança de paradigma; este regresso à terra estava a revitalizar aldeias, e o interior de Portugal. 

Estes dias, vi uma outra reportagem na televisão. Sobre uma aldeia comunitária, não das raras tradicionais que ainda existem, mas das também raras, novas que se foram formando resultado deste êxodo dos últimos anos. Pessoas que procuraram a aldeia para viverem pacificamente, longe do stress das cidades, em busca de uma vida mais saudável, onde pudessem criar os filhos com valores ligados à natureza, à comida, ao consumo, à educação caseira. A aldeia deles tinha sido consumida pelos fogos de 2017 e desde então, cansados de esperar por ajudas externas e públicas, têm estado eles próprios a reconstruir tudo o que perderam. Todos ajudam, crianças pequenas inclusive, cada um faz a sua parte consoante o que pode. O genuíno espírito comunitário, numa lição prática. E a aldeia está novamente a ganhar forma. Alguns confessaram o desanimo, admitiram que a vontade de partir depois da tragédia que os deixou sem tecto, os tentara, mas finalmente resolveram ficar. Agarram-se tenazmente à terra que um dia os fizera querê-la para construir um mundo melhor, e estão pela segunda vez a realizar o sonho. 
No entanto, estes fogos que ano após ano se intensificam em quantidade e abrangência, assustam agora quem ainda sonha com mudanças de vida. Para além da destruição dos incêndios, das mortes, dos feridos, da destruição, do prejuízo, o sonho de mudanças sociais, da revitalização do interior, do regresso à natureza fica comprometido. A ideia de que viver no meio da Natureza pode ser perigoso está latente. E as pessoas remetem-se mais à cidade do que antes. E isto é terrível, é uma contenção mental que condiciona as vidas das pessoas que procuram a mudança para melhor. Que querem ser, efectivamente, agentes de mudança. Felizmente, os resilientes fazem-se ainda mais fortes pelo que vi na reportagem, e espero, desejo profundamente, que consigam inspirar ainda mais!


Aldeia comunitária em Viseu
Eco-aldeia à procura de pessoas e famílias para viver em comunidade
Regresso ao campo - Benfeita