terça-feira, 17 de setembro de 2019

Fora do ninho

Desde o momento em que nos cortam o cordão umbilical que cada dia nos separa dos nossos filhos. Aquele corte foi de alegria, foi celebrado, e será todos os anos recordado. Mas de todas as próximas vezes que sentimos o cordão a ser cortado, houve um pesar crescente, mesclado com a alegria da autonomia das nossas crias. 
Cada passo nos prepara para um afastamento maior, e ainda bem que assim é, a sensação de desapego necessita que o processo se faça lentamente, para ser seguro, de parte a parte. 
Porém, com a entrada na Universidade, quando isso implica saída de casa, a sensação do corte umbilical é maior do que nunca; desaparecem objectos, roupas, sinais de presença, como a desarrumação dos quartos, o silêncio que não é quebrado pela voz trovejante "mãe! cheguei!". Um lugar a menos na mesa, uma comida que não se faz, porque se cozinhava particularmente para ele; e o ignorar como lhe está a correr o dia, se comeu bem, se acordou a horas, o que vestiu e se estava agasalhado para as manhãs frescas. Tudo sai do nosso controle, ou quase tudo, pois graças às novas tecnologias ouvimos, falamos e até vemos, muito do que há distância se passa. E isso, felizmente, aproxima-nos e atenua a ausência, mitigando a saudade. 

Foi só no domingo que o Duarte saiu de casa, mas a dinâmica familiar já mudou. A casa já não é a mesma. Eu já não me sinto a mesma. Falta-me. 
Talvez digam que sou mãe-galinha, mas creio que a maioria das mães portuguesas há-de alinhar comigo, quando digo que esta etapa é agridoce; é a prova de fogo da independência, mas também é a presença pesada da ausência. 
Ele, dizem-me, vai crescer e amadurecer; esta experiência vai mudá-lo, preparando-o para uma vida autónoma; mas ninguém me disse que isto dava para duas direcções; eu também vou crescer com ela. E quero crer que nesse processo de amadurecimento, nos encontraremos novamente, algures. 

Quando vos disserem que o tempo voa, relativamente aos vossos filhos, acreditem! E aproveitem, desfrutem ao máximo da presença deles. Eu acreditei, e desfrutei, portanto, esse arrependimento não sinto, contudo, não implica que não tenha sentido o tempo voar. Parece que foi ontem que nasceu...