segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Uma carta emocionante

 

As colocações para a Universidade saíram no sábado; estávamos ainda a queimar os últimos cartuchos das férias, em Amesterdão. Soubemos à noite onde o Duarte ficou colocado, mais longe de casa do que supúnhamos, e imediatamente as emoções e pensamentos começaram a fluir. Há imensos aspectos a considerar. E simultaneamente, a Letícia chama-me a atenção ( foi, aliás, por aí que soubemos das colocações, que só estavam previstas para hoje), das reacções no FB. Tive que ir ler para crer. Muitas mães estavam a comunicar por essa rede social as colocações dos filhos, e mais ainda, com grandes cartas emocionantes dirigidas a eles, onde expressavam grande orgulho e muito amor. Fiquei algo estupefacta. 

A entrada na Universidade de um filho é realmente importante, mas por outro lado, faz parte do curso da vida; no que me concerne, não é algo extraordinário, é apenas outra fase. É sem dúvida o início de outro patamar, e frequentemente sem retorno, dado que a partir daí a entrada na vida adulta se começa a fazer a solo; entrada no mercado de trabalho que pode implicar distância da casa familiar, e encontro com o amor, que pode igualmente implicar outras paragens geográficas. Porém, a quem interessa isto? Apenas a nós, pais, e a eles, filhos. 

Escrever "cartas" emotivas no FB não é para os filhos. Há que tempos eles migraram para o Instagram, onde as palavras escasseiam e as imagens dizem tudo o que querem. Escrever amorosas cartas no FB é para os outros, os tais 500 amigos que nem se conhecem, para a recolha de likes e corações, e talvez alguma carta se torne viral, pela comunhão de sentimentalismos, num afago do ego que a autora busca despudoradamente. 
Não há limites entre o privado e o público. A devassa de sentimentos faz-se voluntária e alegremente. 
Não resisti e fiz esse post, no FB, cuja imagem ilustra este post do blogue. Não pretendia "parabéns", somente parodiar esta situação.

Sinceramente, a minha reacção, para além de uma ligeira dor de barriga, foi abraçar o meu filho e dizer-lhe que isto me tinha deixado um pouco nervosa e inquieta; ele retribuiu os sentimentos, o que me parece igualmente sadio e natural, e nesse encontro e partilha de emoções e apreensões, confortamo-nos mutuamente. 
A carta, sem dúvida que a escreverei, como tenho escrito outras coisas, mas apenas para ele. E tenho a certeza que o Duarte a lerá e guardará cuidadosamente, como tem guardado essas outras coisas, ao longo dos anos. E será apenas nosso.