quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Sobrenomes - A nossa linhagem

Por sorte os meus filhos gostam, e sempre gostaram, dos nomes e sobrenomes que têm. Quanto aos nomes, em parte por serem exclusivos nas suas gerações, nos sobrenomes não sei, talvez por serem conhecidos onde vivemos.

Na minha geração a insatisfação era quase geral. Havia uma diversidade de nomes sobretudo religiosos, que caíram em desuso, mas quanto aos nomes de família, era algo que nem questionávamos. 

A propósito de uma amiga da Letícia ter comentado, com ela, mais do que uma vez, "os teus nomes de família são lindos, não gosto nada dos meus", fiquei a pensar e logo no momento perguntei-lhe quais eram, e não achei nada que fosse razão para tanto desgosto. Pelo contrário, estão ligados à natureza, e pareceu-me lindo e de bom augúrio. 

Suponhamos que era Pereira Jardim, ora o primeiro é uma árvore, sólida, com raízes profundas, assentes na terra, que dá sombra e até frutos, e o segundo, designa um espaço onde se agrupam flores, vegetação, árvores e arbustos, que atraem todo o tipo de insectos e bichos, sobretudo pássaros; como se um e outro comunicassem entre o céu e a terra, para doarem ao seu portador o material, o essencial à vida terrena mas também o etéreo, o ar, o sol, o divino. 

Por exemplo, o meu Sampaio, cujo significado desconheço, mas que numa aula de Linguística o meu professor me disse que seria de origem grega, deu-me desde então informação para pensar em quem seriam esses antepassados longevos, como teriam chegado à Península Ibérica, com que objectivo, qual teria sido a sua história. E sinto respeito e gratidão, por eles.   

Depois, há ainda a herança energética que os sobrenomes transportam, de longínqua origem, quiçá evoluídos por muitos séculos até chegarem a esta forma; houve depois um momento de união entre um e outro, e a história familiar enriqueceu-se, adensou-se, tomou outro caminho, para originar finalmente esta pessoa que aqui se presenta. E todos os antepassados carregaram estes sobrenomes, com os seus rostos e corpos, e os colaram às suas histórias de vida, e passaram-nos adiante, como um legado de riqueza imaterial, que contém todo o adn familiar.

Doravante, ela vai ser a representação de toda a linhagem, e construir em cima da herança familiar o seu próprio legado, para passar à geração seguinte. Não deverá ser um fardo, possui toda a alegria passada, todos os sonhos, esperanças, também. Mas antes razão de orgulho, é a sobrevivente sabe-se lá do quê, da família, e certamente todos os seus ancestrais a escoltam nesta passagem pela materialidade, pois ela chegou até aqui. 

Ao aceitar os sobrenomes, estamos a aceitar muito mais do que nomes, estamos a honrar as pessoas que tornaram possível a nossa presença neste planeta. Sobreviveram a tempos perigosos, acontecimentos desafiantes, em cenários inóspitos. Deveriam ser os nossos reais heróis. 

E que assim seja.