terça-feira, 19 de abril de 2022

Vício de jardinar


Dia em que eu não passe, pelo menos uma hora no jardim, é dia incompleto. Estou sempre a pensar quando terei um tempo livre para trabalhar nele mais um pouco. Uma hora no mínimo, senão nem vale a pena. E há sempre tanta coisa no jardim para fazer! Antes de me dedicar a ele, seriamente, achava que jardinar era comprar as plantas no horto, transplantá-las para os vasos, e regá-las.  Também pensava que a época para fazer isto, era quando o tempo estava bom, e precisamente quando as flores já tinham desabrochado. Ou seja, era sempre tarde para semear ou plantar bolbos. 

O jasmim liberta um odor maravilhoso, crescerá e será trepadeira.

Agora percebo que se jardina todo o ano, de uma estação para outra, pois o jardim de que se desfruta no momento foi trabalhado na estação anterior. Que fazer frio não é desculpa para trabalhar, e que mesmo em dias de chuva há abertas, frequentemente, que se podem aproveitar. 

Percebo agora que dedicar tempo, diariamente, ao jardim me permite acompanhar as plantas, e descobrir atempadamente uma praga que começa a notar-se, um broto que está a ser devorado por caracóis nas suas ceias nocturnas, uma planta que não se desenvolve, etc., e agir para remediar as situações; no início as pragas são mais fáceis de eliminar, até pode ser à mão, um a um, o broto pode ser protegido, por uma garrafa de água, cortada na base que funciona como redoma, e a planta estagnada pode mudar de lugar. Porque as plantas podem mudar-se de lugar, até encontrarmos aquele que mais lhe agrada, e também a nós, que era algo que eu desconhecia. 

Como eu não mato os caracóis e lesmas, tenho por vezes no jardim uma comunidade que prolifera a números preocupantes, nesses momentos apanho-os para dentro de um saco, onde já coloquei uma folha de alface, ou outro vegetal, e vou libertá-los num jardim público, que não tem flores, só relva e prado. Acho que assim ninguém sai prejudicado. No início contava-os, mas depois de 100 desisti😏

Por me ter adiantado no Inverno a plantar e semear, tenho acompanhado o crescimento das plantas e flores, e isso é outra das alegrias dos jardineiros, ver aquele pontinho verde a furar a terra, a despontar entre o solo castanho, é um momento diário que proporciona grande satisfação. Quando a dedicação dá frutos, é normal sentirmo-nos recompensados. 

Claro que há momentos de frustração, quando os bolbos não nascem de todo, por exemplo; 25% dos narcisos e tulipas que plantei não nasceram, todavia, os bolbos pareciam saudáveis.


Também me irrita sobremaneira ver que nos jardins ingleses (do Istagram) já estão todos em flor, e os meus estão ainda a rebentar, na sua maioria; mas, afinal o nosso clima não é suposto ser mais ameno e propício?! 

A propósito, tenho estado a seguir uma série inglesa dos anos 90, sobre jardins, e fico siderada, maravilhada, até embasbacada a ver aqueles jardins, bordaduras, paredes de casas e muros, tão maravilhosamente verdes, e floridos, com vasos e potes de diversos feitios e materiais, amontoados junto às portas, umas vezes muito cuidados, outras completamente selvagens, a crescerem naturalmente, com uma beleza perfeita. E as casas? De tijolo vermelho e madeira, com telhados de colmo, tectos baixos, cozinhas deliciosamente ultrapassadas, onde as modas nunca entraram, resguardando os tachos de cobre resplandecente, pendurados, os AGA poderosos, as chaleiras e bules de chá, e cancelas imperfeitas e caminhos terrosos. 

Cenários de encantar, e nunca tive tanta vontade de viajar para Inglaterra, senão agora para visitar aquela Inglaterra rural e tradicional, repleta de jardins! Mas teria de ser fora de todos os requisitos turísticos, sem pressas, para cirandar por aquelas vilas e aldeias sem restrições. É curioso dizer isso, agora, "sem restrições"...  

Por vezes, volto atrás e revejo a cena, uma, duas, três vezes, para admirar aqueles cantos que são cenários para a história que se conta, e que me importa realmente menos. A série é MidSummer Murders😁, e sim, só os jardins e as casas me interessam ali. 

Acompanho no YT jardineiros, leio livros sobre o assunto, e sigo no Pinterest uma série de quadros inspiradores; tornei-me num caso sério da jardinagem. Nunca pensei, mas a jardinagem é uma actividade tão compensadora, e até terapêutica, pois o tempo que se passa nela é de enraizamento, de foco, de meditação e ligação à natureza. Até nos momentos em que descubro um insecto que nunca vi antes, em volta de uma planta nova, me deixa maravilhada, para não mencionar as abelhas, que amo de paixão, e adoro vê-las e ouvi-las, no meu jardim. 

Se ainda não se renderam a esta actividade, aconselho a que experimentem; comecem por comprar sementes e usar vasos. Uma varanda serve, não havendo espaço. Verão quão rápida é a recompensa, e o gosto rapidamente cresce, por um passatempo que tem tudo de benéfico.