quarta-feira, 11 de maio de 2022

Aprender a deixar ir...

Nesta sala foi tudo comprado em 2a mão*

Na semana passada tivemos cá em casa dois taqueiros a arranjar o chão da sala, e foi algo que aconteceu da segunda para quarta, porque os profissionais quando dizem que podem fazer o trabalho num dia tão próximo, é porque vêm mesmo, e não podemos desperdiçar a ocasião. Tivemos um dia para retirar absolutamente tudo da sala, primeiro de dentro dos móveis, depois os próprios móveis, eu e o meu marido, mas quando trabalhamos a remar para o mesmo lado, as coisas correm mesmo bem. Tendo exposto o cenário, o que quero dizer é isto: acumulamos demasiado! 

A intenção, ao guardar, era lavar e limpar tudo (a casa ficou com uma camada fina de pó que se infiltrou por todo o lado!), arrumar melhor, e despachar alguma coisa. Vai daí, o que posso dispensar? Isto não que foi presente de casamento, isto não que foi herança da minha avó, isto também não que foi herança da parte do meu marido ( e já despachei tanto, que já não posso mais!), e basicamente, voltou tudo lá para dentro dos louceiros. Excepto 8 copos básicos, do tempo das grandiosas festas infantis, que por não mais voltarem, se tornam dispensáveis. 

Os louceiros estão lotados, novamente. 

Se voltasse atrás, o que diria a mim mesma, relativamente a aquisição de bens domésticos? 

Para não comprar o faqueiro bom; mas também não adivinhava que iria herdar outro, e receber de presente um terceiro; para colocar na lista de presentes só meia dúzia de chávenas de leite, e meia de chá, acho que nunca usei as 12 de uma só vez. De reduzir o número de travessas. Excluiria as garrafas de cristal da lista. Não compraria máquinas para a cozinha para efeitos diferentes, mas investia apenas em uma que fizesse tudo; não vou despachar todas as que tenho agora para substituir por uma, seria um grande desperdício de dinheiro. 

Para não comprar bibelot absolutamente nenhum! Pronto, só muito raramente, quando fossem mesmo excepcionais. Tenho os móveis cheios e poucos comprei. Pediria às pessoas que me oferecessem sempre coisas perecíveis, champanhe, bolachas, chocolates, velas, cremes...

Para não comprar livros que não fossem de autores consagrados, os outros não valem o espaço que ocupam nas prateleiras, podem vir da biblioteca, para voltarem para lá. 

Aquilo que sou levada a concluir é que naturalmente somos apegados às nossas coisas, mas quando elas estão carregadas com memórias afectivas, ficamos mais ainda, e se torna muito difícil deixá-las ir. Ora, não apenas é conveniente para mim praticar o desapego, porque quero estar mais em sintonia com a espiritualidade, como por diversas razões me faz sentido que a casa esteja menos cheia, torna-se mais prática, mais fácil de limpar e manter, mais leve, mais organizada.

Por outro lado, há nas casas mais cheias um conforto que me agrada, são mais aconchegantes, são mais generosas, revelam mais dos seus habitantes; não são casas estáticas, parece haver uma constante movimentação, são casas vividas.   

Encontrei no insta uma decoradora* irlandesa que me deixa apaixonada, porque adoro aquele tipo de estética, casas com carácter, decoradas com móveis antigos e poucos adereços, é portanto possível juntar as duas coisas.

Vou, por conseguinte, continuar a observar o que me pode ser dispensável, e tentar praticar esta coisa do desapego para atingir um certo equilíbrio. Se calhar, vou abdicar da terrina da Vista Alegre da avó, que usamos como fruteira, já está colada, e eu detesto coisas coladas. Então porque colei? Era da avó. Lá está, o valor emocional. Mas tem lógica que o faça, uma coisa e a outra. É um processo. 

*My life in colour