quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Móveis De Verdade

Via

As lojas Ikea vieram revolucionar a decoração das casas em Portugal, e de resto, em todos os países em que abriram lojas. À semelhança da Zara, na imitação das colecções de luxo, o Ikea proporciona aquilo que parece design de alta qualidade, e vendo casas com estes móveis, decoradas por decoradores, ou pessoas com muito bom gosto, sobretudo através do ecrã, tudo parece ser bonito e ter qualidade, dando realmente bom aspecto, e sendo economicamente acessível.

A questão é que quando pegamos naqueles móveis, quando tocamos neles, percebemos claramente que são tal qual a comida fast food, bom aspecto (no geral), mas sem qualidade. São móveis a fingir, parecem ser feitos de cartão, e se economizam na madeira, imagino a qualidade das tintas, vernizes e colas ( que respiramos!) utilizadas no seu fabrico. Afinal, o produto vem para o mercado a preços acessíveis e pelo caminho tem que pagar a imensa gente, trabalhadores, transportadoras, e... ter lucro! E não pouco, dado que o proprietário do Ikea é o homem mais rico da Europa. 

Há dias, caminhava pela rua e reparei em duas casas seguidas, cujas janelas estavam abertas, na primeira, que sei habitada por duas pessoas idosas, vi um candeeiro de tecto do Ikea, e na casa seguinte notei um candeeiro antigo, que mais parecia ter saído da casa anterior. Achei curioso, e fiquei a pensar nisso. 

Um dos meus primos despachou, há relativamente pouco tempo, a mesa de sala e armário de apoio, ambos adquiridos no Ikea, e comprou os móveis equivalentes, de meados do século XX, a alguém que os restaura e vende. Os meus tios espantaram-se, creio que acharam um retrocesso, e sobretudo a minha tia, dizia que pareciam os móveis da sogra, dos quais nunca gostou.

O meu primo e mulher justificaram a mudança com a falta de qualidade dos móveis Ikea, e a vulgaridade, é certo que se encontram em todo o lado, que queriam algo diferenciado, e feito à mão. 

Parece-me, agora que as gerações mais velhas se renderam ao estilo Ikea, as mais novas procuram o vintage, os móveis de nicho, e fico muito contente com a mudança. Mas afinal que lucro eu com isso? Gosto de ver valorizados móveis que já não se fabricam, e que têm possibilidades diversas de uso, terem uma segunda oportunidade, ao serem restaurados. Para além de serem bonitos, e diversificados, há tantos estilos, proporcionando decorações diferentes, e eu gosto do que sai da norma, e por reflectir ainda um estilo de vida amigo do ambiente. 

Há imensas lojas que vendem móveis em segunda mão, nas plataformas online também, particulares ou profissionais, há também quem os venda já restaurados, e a oferta é vasta. Podem ser personalizados, ao gosto de cada um, e se as pessoas se atreverem a pôr mãos na massa é um trabalho manual que poderá ser muito gratificante. 

Nós temos em casa os móveis herdados, de diversas gerações, e nenhum deles me cansa, ou dá vontade de os substituir, porque quando as coisas são verdadeiras duram muito mais. Pelo menos para a minha vida durarão.