Estou profundamente zangada e triste; quando abri a persiana do meu quarto vi, imediatamente, uma árvore tombada, na avenida do parque. Abri a janela para espreitar mais acima, e lá estava outra. Só nesta avenida caíram quatro tílias, centenárias, frondosas, belíssimas e odoríferas; é uma aroma doce e delicioso próprio da nossa Vila, por altura dos santos populares, só quem vive aqui compreende do que falo. Faz parte das nossas memórias mais antigas.
Irão dizer que foi do vento forte, da tempestade desta noite, das alterações climáticas, sei lá, mas não! A responsabilidade é de quem mutilou as raízes destas criaturas maravilhosas, retirando-lhes a sustentação que efectua o equilíbrio entre copa e base. E para quê? Para fazer os passeios, horríveis, já agora, nestas últimas obras.
O sentimento que tenho é de luto. E raiva contra os ignorantes que desrespeitam a Natureza, e vão por aí fora mutilando árvores com podas agressivas, e lhes roubam raízes. A esses convém-lhes, de certeza, afirmar que tudo isto é resultado das "alterações climáticas". Não é! são eles os responsáveis, os que mandam fazer, os que fazem, e os que aplaudem, pois inacreditavelmente a maioria da população incomoda-se mais com passeios tortos pelas raízes das árvores do que quando elas tombam, feridas de morte. Todos iguais.