quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Feira de vaidades, à portuguesa

Aviso: A vanity Fair nada tem a ver com o artigo.
- Tem aqui umas revistas. Diz-me a cabeleireira, enquanto pousa no meu colo as chamadas revistas cor-de-rosa.
Começo a folhear, e a ler os títulos, pois apesar de só me deparar com este tipo de revistas em salas de espera, ou na cabeleireira, a minha impaciência para estes artigos é a mesma.
-Quem é esta gente ? Pergunto eu incrédula.
A cabeleireira espreita por cima do meu ombro:
- Ah, essa é uma decoradora de interiores!
- E esta? Insisto.
- É casada com um médico. Revela a minha informante.
- E isso também dá direito a aparecer em revistas do coração?! Espanto-me eu.
- É um cirurgião plástico! Acrescenta.
- Aaaaahhh... Murmuro. 

Conhece aquele ditado: " A necessidade aguça o engenho"? Pois é o que se passa com estas revistas, na falta de matéria-prima, resolveram o problema produzindo-a eles próprios. Estão a criar uma série de personagens, a partir de pessoas banais, com profissões vulgares, vivendo em casas comuns, porém dispostas a sair do anonimato das suas vidas, através de reportagens fotográficas ( nem vou mencionar as entrevistas!), igualmente banais.

Sinceramente, o que nos interessa a nós ver a mulher do cirurgião plástico numa loja a experimentar modelitos?! Ou então as fotos do casamento do cantor, e de seguida as da lua-de-mel, quando a vida privada destes já foi exposta até ao mais ínfimo pormenor?!
E as revistas estão repletas destes artigos; os nomes das publicações mudam, todavia os rostos e notícias que veiculam são as mesmas; as mesmas fotos, mesmas roupas, mesmos locais, com as mesmas pessoas a informar o mesmo acontecimento: nascimento, casamento, divórcio.

Vamos encarar a realidade de frente: nós não temos, em Portugal, jet-set! Nem temos VIP's.
Temos um primeiro grupo de pessoas, constituído pelos rostos da tv (actores, cantores, apresentadores, etc).
Temos um segundo grupo, de pessoas conhecidas, por fazerem nada, que são vestidas pelas boutiques e vão a eventos quando recebem cachet ( mesmo os de solidariedade, segundo consta).
Depois temos um terceiro grupo, o daqueles que vestem, decoram as casas, fazem liftings e põem botox, nas pessoas dos grupos anteriores. 
E isto, querem fazer-nos crer, são os Vip's portugueses.

Mas...como este elenco é insuficiente para tantas revistas e publicações semanais, têm-se criado este derradeiro e instantâneo grupo- o usa e deita fora, o das tais pessoas absolutamente desconhecidas e prosaicas.

Não é de rir? Eu acho, e depois de ter percebido o esquema até que foi divertido, folhear aqueles disparates!E sabem qual o maior disparate de todos? Pagar para ler estes disparates. Perdoem-me a redundância.

Até breve!