segunda-feira, 25 de junho de 2012

Das profissões ancestrais

Há profissões que me comovem imenso. Uma delas é o agricultor. Ou lavrador, palavra que já não se usa, o que é uma pena, porque eu acho-a linda.
Estes dias assistimos a um cortejo etnográfico, e emocionei-me, como já aconteceu antes.Ver aquela parafernália antiga, ligada ao cultivo da terra ( que a maior parte já não utiliza ), e aquelas pessoas que as usam, provoca-me uma série de emoções que dificilmente consigo explicar. Fecho-me num muro transparente de silêncio, para que essas emoções não extravasem, só assim consigo dominá-las.

Ou então, pego nelas e desmonto-as em bocadinhos, como estou a fazer agora. Porque me comove tanto a figura do agricultor?
Naquele cortejo eu vi, não apenas as pessoas que lá estavam, agricultores que trabalham a terra, mas também as gerações passadas, os pais, os avós, os bisavós, numa linha genealógica imemorial, porque nesta profissão é assim. Os lavradores que ali estavam não tiveram escolha, o destino levou-os a uma passagem de testemunho.
Naqueles lavradores, eu vi a "ciência" do cultivo da terra. Técnicas, segredos, ensinamentos, passados de geração em geração, verdadeiros livros vivos. Eu vi o poder de quem sabe transformar uma semente num pão.
Naquelas pessoas eu reconheci a  importância vital para a continuidade da espécie humana, missão que têm levado a cabo desde que o ser humano se tornou sedentário. Talvez esta seja mesmo a profissão mais importante de todas. Por ser tão vital.

E no fim de tudo isto, o que me dói, é o abandono a que os agricultores são votados pelos sucessivos governos. Pelas pessoas, em geral, que não os valorizam devidamente. Pelos hipermercados que os espremem até ao tutano, para fazerem as suas promoções.

Alguém imaginará a dureza de um trabalho sem horários, sem dias de descanso? Sem garantias de nada? O fruto do trabalho de meses pode ser destruído em minutos, por granizo por exemplo, como aconteceu recentemente no Douro.

Os lavradores mereciam mais, muito mais. Nós precisamos deles, todos os dias, e todos os dias os negligenciamos e esquecemos.
Mas não é por isso que esta profissão me provoca emoções tão viscerais. A figura do lavrador comove-me porque vejo um estilo de vida em risco de extinção.Uma página na história da humanidade que se vira.

Tenha uma óptima semana!