quinta-feira, 17 de outubro de 2019

O Impacto da Moda nos Jovens




Quando perguntei à Letícia se iria fazer greve pelo clima, respondeu-me que não, que tinha visto como as ruas ficavam depois das manifestações, e de como os jovens, em geral, que participam, depois continuam com as suas vidas de sempre. 

A Coerência do seu discurso tem ainda mais valor por estar em consonância com as decisões que a minha filha toma a cada dia; tornou-se vegana, e desde o principio do verão que está em boicote à fast fashion. Já sabia como funcionam as marcas que vendem roupa gira e barata, por falarmos destes assuntos cá em casa, mas entretanto viu vídeos e reportagens no YouTube e Netflix o que lhe deu a certeza de não querer continuar a alimentar um sistema capitalista selvagem, que enriquece continuamente os mais ricos do mundo, às custas da exploração dos mais pobres e do ambiente.

Não é um caminho fácil, ou então todos, ou muitos mais, o fariam; entrar na Zara em época de saldos e resistir a t-shirts que custam 2€ é uma provação diabólica. Felizmente, - eram todas feias, como ela disse a rir, quando lá fomos no Verão. 

Portanto, o que vestir? É a questão, quando quase tudo é feito em países sub-desenvolvidos, nos quais a exploração humana e desrespeito ambiental é normal. A solução está no "quase"; por sorte, vivemos numa região aonde abundam as fábricas têxteis e confecções, e por conseguinte, temos ofertas das lojas de fábrica, e ainda devido a isso, os excessos de encomendas de marcas internacionais, a serem vendidas em mercados e feiras.

Em segundo, temos cada vez mais lojas de roupas vintage, onde se compram peças fantásticas, sobretudo para quem gosta de vestir diferente dos outros; a confecção é de outros tempos, mas o preço, por regra, também.

Em terceiro, existe oferta em mercados biológicos e veganos de roupa feita em Portugal, que sabemos ser obtida dentro da observação da Lei, e da ética. Por outro lado, ajudamos pequenos negócios locais, pessoas que vivem como nós, não um dos senhores mais ricos do mundo. Somos fãs da "RespirAmor", que envia por correio, em envelopes que a própria Joana faz. 



Em quarto, há sempre peças de alguém na família que acumulou ao longo dos anos, que pode servir de fornecedor privado; no caso da Letícia sou eu. Começou a aparecer com uma peça ou outra minha, o que me regozijou, e depois fui eu a incentivá-la a procurar e até a sugerir-lhe algumas das minhas coisas. 

Em quinto, a reutilização é outra forma de consumir menos; existem pessoas que fazem festas de roupa; grupos de amigas que se juntam, cada uma leva um número de peças que trocam por igual quantidade. Há inclusivamente eventos que promovem estas trocas, como aquela no Museu Machado de Castro

A questão é que, actualmente, todos queremos saber de onde vem a nossa comida, como é produzida e por quem, porque isso tem um forte impacto no nosso corpo e saúde, e todavia não colocamos a mesma questão relativamente à roupa. Como são produzidos e obtidos os materiais, quem faz as roupas, e como são confeccionadas, são perguntas que devemos fazer. 
Comprar eticamente deve ser um conceito abrangente, e claro que a moda não pode ficar de fora, mas por outro lado, os jovens adoram a moda. 
O conhecimento liberta, e só quando a juventude tomar consciência que o planeta não comporta este consumo desenfreado de bens, e que beneficiam de privilégios às custas da saúde e bem-estar de outros, poderão mudar de atitude. Não creio que ficarão indiferentes ao facto de saber que vestem o que uma criança que deveria estar na escola, costurou. Ou que o algodão da t-shirt é obtido por mão de obra praticamente escrava. A nossa vaidade não pode estar acima da exploração de outrem.
 
Fazer paradas e greves não resolve nada. Estão a ser apenas iguais às gerações anteriores que tanto condenam. É urgente uma mudança de mentalidade e comportamento, e é isto que lhes falta.