Há pessoas que, realmente, têm uma tendência enorme para se verem enredadas em problemas, com uma facilidade que me deixa perplexa. De uma adversidade que lhes surge, causada pelos próprios ou por outrem, multiplicam-se diversas, sucessivamente. De fora, até me sinto zonza ao observar tamanha espiral.
A pessoa perde o emprego, sente-se em baixo, começa a beber demasiado, causa mau ambiente em casa, os amigos e colegas afastam-se, fica deprimido, fica mais em casa, com uma vida totalmente sedentária, começa a tomar medicamentos anti-depressão, entretanto, para além dos problemas financeiros, já afastou a família e perdeu amigos, que entretanto nem conseguem sugeri-lo para qualquer trabalho, com receio de indicar um alcoólico ou instável; engordou, está doente, em suma, agora sim, tem razão para se sentir mal, e a mais desafortunada pessoa do mundo! E de quem é a responsabilidade? Sua. Mas não vê nem aceita.
Causa-me espanto, e pena, ver problemas que surgem, desnecessariamente, a estas pessoas por talento próprio para o desastre; entre viver numa casa, tranquila, que precisa de algumas obras para ficar melhor isolada do frio e calor, onde há uma parcela de terra que gosta de trabalhar, prefere vendê-la e mudar-se para um apartamento, no bulício da cidade, agora que está reformado. Já antevejo o caminho para a depressão.
Entre assumir uma omissão, explicando-a com sinceridade, preferiu persistir nela, justificando-a com mentiras, que adiante foram descobertas e expostas, causando um relacionamento de desconfiança que também antecipo, culmine, mais cedo ou mais tarde, em nada de bom.
Entre manter os bens materiais que herda, vai-os vendendo, acumulando o valor no banco, que em juros nada de significativo lhe rende, enquanto os filhos não possuem sequer casa própria; mas o dinheiro, um dia, será deles!
Enfim, são tantas as más escolhas que vejo e as pessoas passarem por tantas angústias desnecessárias! Constato também que isto não acontece apenas com pessoas menos educadas e inteligentes, é transversal a essas catalogações, o que me levou a concluir que isto não lhes está ligado, mas que se explica apenas pelo coeficiente emocional.
É bom de constatar, também, que outros conseguem pegar numa situação problemática inicial, como o desemprego, e conseguem dar-lhe uma volta que resulta positiva, e por vezes até, surpreendente; procuram activamente trabalho, e enquanto isso dedicam-se mais aos filhos, começam a fazer exercício físico, vão fazer uma formação no I.E. que os vai qualificar para outras áreas, ampliando assim as suas possibilidades; atiram-se finalmente para algo com que sonhavam e não ousavam, como abrir um negócio. Como se aquele percalço lhes desse força, e se engrandecessem perante a adversidade. Não admira que as empresas tenham começado a dar mais valor ao C.E. .
A arte de descomplicar, resume-se a isto: O problema surge, o objectivo é conter o problema. Focar na solução, que seja eficiente e não provoque efeito dominó. Se não se consegue fazê-lo sozinho, devemos conversar com pessoas em quem tenhamos confiança, que gostem de nós, que vejamos como sensatas, e a prova disso está nas suas vidas, basta observá-las.
A vida é como um jogo, um puzzle, e quanto mais o jogamos de forma consciente, melhor nos tornamos a fazê-lo. Já antes alguém disse: Não conseguimos evitar todos problemas, o nosso poder está na forma como os enfrentamos.