Ilustração, via |
Há dias, durante o almoço, o meu marido dizia-me: - Já reparaste no buço do Duarte?
Virei-me para o lado e olhei.
-Aquilo não é buço! É sujidade; limpa a boca com o guardanapo, Duarte.
Meio confuso o meu filho pegou no guardanapo, mas "aquilo" não saia.
-Deve ser marca de leite achocolatado, já seco -Insistia eu - ou então é da sombra!
Pai e filho começaram a rir-se, enquanto eu me debruçava sobre o tal buço, para o analisar. Na verdade, eu já o tinha visto antes, mas inconscientemente tinha preferido não lhe dar importância. Sei lá, podia ser que se não lhe reconhecesse a existência, ele deixasse de se exibir.
Mas não. Estava lá e já outras pessoas começavam a reparar nele.
Como o subterfúgio do "não te vejo, logo não existes" não estava a funcionar, resolvi ser mais direta. Já não tinha nada a perder.
- Estás proibido de crescer, filho! Pára lá com isso, ouviste?!
O Duarte ria-se, divertido.
- Onde é que isto vai parar?! Volvia eu. Ao bigode, à barba completa?! Qualquer dia estás mais alto do que eu. Isto não pode ser. Dizia, muito circunspecta.
Ficou claro, pensei eu, que brincava, porém, passados alguns dias o Duarte perguntou-me, do nada, se eu falava a sério, quando o proibi de crescer.
- Com certeza que não, meu filho, isso não é sequer algo que eu possa proibir, ou impedir. É o curso natural da vida, e eu gosto muito de te ver crescer.
- Mas gostas muito de ter filhos pequenos, não é, mãe? Insistia ele, com alguma razão, pois essa é uma afirmação que eu tenho feito ao longo dos anos.
-Pois gosto, mas também vou gostar de todas as fases das vossas vidas; todas têm os seus encantos e descobertas, e tenho a certeza que vou aprender muito com elas.
Acho que o Duarte ficou tranquilo, e esclarecido.
Mas eu não.
Realmente estou a sentir uma certa "pena" ao ver os meus filhos crescerem e afastarem-se da infância.Nem sequer é apreensão pela adolescência ( sim, chamem-me inconsciente!), mas antes uma espécie de saudade antecipada de um tempo de vida, que adorei ter experienciado.
Sim, desfrutei bastante, mas que querem?! O ser humano é cheio de conflitos e incongruências, como desejar que os filhos cresçam e sejam pequeninos, para sempre. E eu sou apenas um ser humano...
Tenham uma ótima semana!