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Nesse tempo, senti-me livre para escrever sobre todos os assuntos inspirados no meu quotidiano, envolvendo pessoas mais ou menos próximas. Esses acontecimentos serviam de base para reflexão, e mesmo omitindo nomes, se essas pessoas fossem leitoras do blogue com certeza se identificariam. E as acções tomariam não o carácter que eu lhes queria atribuir, o da reflexão, mas o da crítica.
Há uma certa cobardia no anonimato, mas por outro lado, liberta-nos. Dá-nos condições para escrever o que pensamos e sentimos sem lenitivos. Conseguimos ser mais objectivos, sem preocupações com o politicamente correcto. Sem receio de melindar, dando uma opinião verdadeiramente pessoal.
E que mal teria isto feito, com a assinatura em baixo? Apesar de cada vez mais as pessoas serem capazes de emitir uma opinião, a tolerância para com as opiniões diferentes é cada vez mais restrita. Mesmo jornalistas conceituados se deparam diariamente com opiniões insultuosas de leitores, apenas porque discordam deles.
Portanto, com o tempo e devido a um acontecimento relevante, que não vem ao caso, fui assumindo aqui a minha identidade, não a verdadeira porque sempre foi essa, mas uma identidade mais completa e inequívoca. Inesperadamente, não senti a perda do anonimato como julguei que sentiria; a minha linha manteve-se praticamente a mesma, continuei a expressar as minhas opiniões e reflexões, nem sempre politica e socialmente correctas.
Com certeza que muitos leitores não concordarão comigo, pelo menos não sempre, contudo tenho tido a sorte de não ter leitores anónimos a comentar, e isso para mim conta muito. E se conta para mim, que estou do lado de cá, porque não contaria para quem está no lado de lá? Há uma espécie de injustiça na falta deste equilíbrio.
Em última instância, somos todos livres para assumirmos o que queremos e aceitamos.
Após este percurso, cheguei à conclusão de que escrever um blogue pessoal anonimamente pode libertar-nos, porém faze-lo com assinatura, fortalece-nos.