quinta-feira, 28 de maio de 2020

Férias em Amesterdão



Por uma razão ou outra fui adiando escrever sobre as últimas férias, em Setembro de 2019, em Amsterdão. Às páginas tantas já nem sequer fazia sentido, entretanto já estávamos às portas das férias de Páscoa, e depois, kabum! Desabou tudo. De qualquer forma, este blogue também serve para registar momentos que um dia os meus filhos poderão querer recordar. E porque recordar é viver, e sei lá quando iremos de férias novamente, repesquei o tema.

Amsterdão foi um destino proposto pelo Duarte, e dado que desde os 15 anos deixou de querer ir de férias connosco (com breve excepção para Itália em 2017, mas que rapidamente renegou!), e ter a aprovação da Letícia, Amesterdão foi! 
Aliás, quando lá estive pela primeira vez, estava grávida do Duarte, sem saber, e isso foi sempre uma carta que ele atirava à Letícia, dizendo que tinha visitado um país, aonde ela ainda não tinha ido. E sim, causava mossa.

Há cerca de 19 anos tínhamos feito férias na Holanda, e eu gostei tanto do país que disse logo que um dia voltaria. Demorou demais. Mas enfim, com os meus filhos valeu muito a pena. Outros membros da família também nos acompanharam, é sempre mais divertido com primos.
Ficamos no Cityden, um aparthotel nos arredores da cidade, diferente do habitual air bnb, muito bom, mas não é, efectivamente, o meu estilo, gosto da estadia com entidade local e privada, mas desta vez foi mesmo para fazer a vontade a outros, que aliás já me tinham feito a vontade antes. 


Amsterdão é uma cidade tão bonita, devido aos seus múltiplos canais e prédios de tijolo vermelho, do séc.XV e XVI, que passear por ela, fotografando um canto com flores, uma bicicleta encostada, um gato que espreita, se torna como que um jogo viciante; é um constante postal! E por isso nos contentamos em passar horas nestes passeios, admirando, fotografando, comentando. A propósito, adoro como os habitantes se apossam do passeio público, em frente a suas casas, decorando-o com diversos vasos, eles próprios lindos, com abundantes flores coloridas. Se alguém fizesse cá algo semelhante, prevejo que ninguém o aprovaria, rapidamente seria recriminado por posse indevida da via pública. Uma pena. 

Começamos por fazer um cruzeiro pelos canais; é sempre uma óptima forma de conhecermos as cidades, dá-nos uma perspectiva de outro ângulo, informações a que de outra forma não teríamos acesso, e ajuda imediatamente a localizarmo-nos geograficamente. De bónus, as melhores paisagens da cidade! 

No Museumplein (praça dos Museus), visitamos o Van Gogh e o Rijksmuseum; a Letícia estava com imensa curiosidade de visitar o primeiro, sabia que seria o seu ponto alto, e de facto o maior acervo de obras do pintor é impressionante. Aqui aconteceu algo inédito, era a Letícia que nos contava a biografia do pintor relacionando-a com as obras, e contextualizando-as. Ela ter estudado História da Arte, com gosto e distinção (fez a disciplina por exame nacional, 10 e 11º anos, com 19,5), deu-lhe material para isso. Para mim, isto foi algo de maravilhoso, pois desde que os meus filhos eram pequeninos que as visitas culturais incluíam esta forma de os cativar, eu  ia-lhes contando histórias sobre as personalidades e História. Chegamos ao ponto inverso, com a graça de Deus.
Pessoalmente, prefiro o Rijksmuseum, gosto mais dos velhos pintores como Rembrandt e Vermeer. O meu sonho era passar ali um dia, sozinha. Sem ninguém à espera.
Nestes museus, os menores de 18 anos não pagam bilhete, o que é sempre uma coisa simpática. Compramos as entradas na bilheteira para o dia seguinte, porque naquele momento não havia fila, senão teria sido online, que é sempre o mais recomendável. 


Na praça Dam, centro, onde está o obelisco em homenagem aos caídos na II Guerra Mundial, visitamos os Palácio Real, que a família real não habita, excepto para determinados eventos, mas que vale a pena pela majestade. Ao lado, a igreja De Niewve Kerk estava em obras, mas ainda assim aberta ao público, porém, ninguém se interessou em visitá-la.

Na primeira vez que visitei a cidade, Begijnhof foi um local que me apaixonou. Trata-se de um pátio a que se tem acesso por uma porta algo discreta, e aí se encontram diversas residências para mulheres solteiras ou viúvas, e que existem há vários séculos. As casas estão inclinadas pela idade, no meio uma pequena capela, e muito jardim e vegetação. Do lado de fora, a agitação da cidade, ali, o silêncio e tranquilidade. É um local muito especial. 

O Red Light district estava a provocar muitas referências aos adolescentes, por isso foi desde logo uma área que visitamos, mas eles não se deixaram encantar, pelo contrário, quando viram as mulheres em vitrinas, como mercadoria à venda, sentiram-se constrangidos. Nem sequer olhavam. Apreciei esse comportamento. As lojas onde se vendem as bolachas "com erva" também os fascinavam, e queriam vê-las, mas não ousaram entrar. Não com adultos responsáveis, pelo menos. Afinal, estão naquela idade que a ousadia é ainda imaginária, quando confrontados com a possibilidade, retraem-se. Ámen!

Outro local que a Letícia queria visitar era a casa de Anne Frank, mas não deu. Desde o início que eu tinha dito que não iria lá, o Duarte também não, portanto o resto do grupo que se arranjasse. Deixaram rolar, não se apercebendo que os bilhetes são vendidos online com meses de antecedência, e portanto apenas lhes foi possível ver a casa do exterior. A Letícia diz que um dia vai voltar e visitá-la. Eu não sou de todo adepta do turismo "negro". Mas lá perto fica o Winkel 43, conhecido por ter a melhor tarte de Maçã de Amesterdão e para lá fomos, para deleite dos não-vegetarinos. Parece que sim, confirmaram-me que era deliciosa. 

Uma certa tarde, apanhamos o comboio para Leiden. Para além da experiência de viajar num comboio holandês, de dois andares e muito confortável, que atravessou campos, pequenas localidades, e nos permitiu observar lagoas, campos de flores, de cultivo, vacas e cavalos, pequenos canais com barcos-casas, visitar uma pequena cidade antiga, como Leiden, foi uma boa decisão. Lembrava-me de que Leiden me agradara imenso.
Ali sente-se muito a atmosfera holandesa, preservada daquela massa turística de Amsterdão. A universidade é a mais antiga do pais, e famosa.

Passear pelo mercado de flores é daquelas coisas a que não se pode escapar. Está muito diferente daquilo que me lembrava; muito mais turístico, com muitos berliques e berloques de Amesterdão, para os turistas levarem de recordação. Muitas flores secas, e de imitação. Perdeu a sua genuinidade. Mas lá está, tem que se passar por ali, nem que seja pelos bolbos de túlipa!

As lojas de roupa em segunda mão são abundantes, e desde o boicote da Letícia ao fast fashion que se tornaram estabelecimentos obrigatórios, especialmente quando nos esbarramos neles. Infelizmente para ela, os números dos holandeses são enormes e não foi fácil encontrar algo que gostasse e servisse. Mas quem persevera sempre alcança.  

O meu sobrinho Gonçalo, que joga futebol desde os 6 anos e adora o desporto, quis fazer uma visita guiada pelo Amesterdam Arena, e portanto foi, enquanto nós dávamos um giro pela Velha Amesterdão.

De brinde, uma amiga portuguesa que vive na Alemanha, foi, com a filha, passar o fim-de-semana a Amesterdão, para nos encontrar, e assim o grupo cresceu mais um pouco. Por causa dela ( porque em 2019 não tinha vindo a Portugal de férias), e pelo meu sobrinho (que já estava com saudades da comidinha Tuga!), fomos almoçar a um restaurante Português, que nos calhou pela frente; as pessoas eram todas do Norte, muito simpáticas e acolhedoras, mas canudo... um pastel de Nata 3,70€?! Pronto, as saudades pagam-se, e apagam-se também com sabores. De resto, almoçávamos por aqui e por ali, uns a comer isto, outros aquilo, lá ia aparecendo algo vegetariano para nós, mas no geral a cozinha holandesa deixa muito a desejar. 

Era Setembro mas apanhamos frio e chuviscos, e não levávamos connosco roupa muito quente. Os holandeses já vestiam casacos compridos de Inverno, casacos de penas, portanto já dá para ter uma ideia da meteorologia! Por teimosia também não queríamos comprar, a bagagem era diminuta e depois cá nada nos fazia falta. Aguentamos, e afinal ninguém se constipou! Doravante, para os países do Norte levo casacos mais quentes, os corta-ventos são para a Península Ibérica.
 

Foram 5 dias bem passados, sem stresses para ter que ver isto e aquilo (claro que ajudou eu já ter visitado muitos dos monumentos anteriormente, como a casa de Rembrandt, a Sinagoga portuguesa, etc.),  e desfrutamos bastante da cidade, e da companhia uns dos outros. Uma viagem de família que já traz saudades, sobretudo agora, que ignoramos quando será possível voltarmos a fazer este tipo de coisa. Por isso, cada vez mais Carpe diem tem que ser o moto.