quinta-feira, 21 de maio de 2020

Vamos sair disto todos melhores?

Diziam por aí que vamos sair disto tudo melhores pessoas. Que era uma lição transformadora que iria mudar toda uma sociedade. Todo o planeta! Mas aquilo que eu tenho visto desde que a "pandemia" começou leva-me a pensar, que não. E eu até sou uma pessoa optimista. Aquilo que vi, ouvi, e li levam-me a concluir que as pessoas continuam as mesmas; algumas deixaram cair as máscaras, revelando a verdadeira essência. Nesse caso, não são as mesmas, mas são as mesmas.

O que dizer das "patrulhas de policiamento digital", que armadas dos respectivos telemóveis, fotografaram quem andava na rua, os negócios abertos, quem caminhava, quem parava a conversar, para publicar nas redes sociais, a condenar? E aqueles que se lhes juntavam, insultando os "criminosos", apelando à prisão, à criação do departamento policial só para estes casos, e número telefónico de denúncia?!
O que dizer daqueles que na rua se armaram em rufias, mandando bocas, fazendo caretas e gestos reprovatórios, dando ordens como se fossem polícias? 
E dos verdadeiros polícias, que em jeito de pequenos ditadores, retiraram do mar o surfista, levando-o na carrinha para a esquadra? Os que ordenaram que saísse, à senhora que lia, solitariamente, num rochedo? As que obrigaram outra senhora a levantar-se da areia, porque na praia só se pode estar, circulando? E os que fecharam todo um centro comercial, porque a ordem tinha vindo "de cima"?! Enfim, de baixo a cima houve gente a estar muito mal, nesta história.

Mesmo nos blogues mais levezinhos, que leio, porque também gosto disso, de moda e decoração, as autoras continuam com as suas vidas de sempre. A preocupação expressa é a mesma de outrora, quando poderei usar este jumpsuit, poderei ir de férias? E ir ao restaurante X que saudades, a encomenda das almofadas para o sofá nunca mais chega, etc. Não houve reflexões profundas sobre a vida, o que poderiam mudar, o que poderiam melhorar. Continua tudo igualzinho. Só com mais medo. 

Portanto, parece-me que a grandeza dos acontecimentos não tem forte impacto na mudança; há quem acorde para o que realmente conta, quando bateu ligeiramente com o carro, e bastou o susto do impacto, e há quem não acorde nem com a ameaça de morte que, supostamente, paira sobre a cabeça. 
Por isso, nesta cena toda, saiu cá para fora o melhor e o pior de cada um de nós. Entrou em pânico quem é de entrar em pânico, manteve a calma quem é de manter a calma; ajudou o outro quem já ajudava antes, ficou sentado a ver a banda passar, quem já antes assim estava. Foi a reboque quem já andava atrelado, decidiu para si quem já o antes o fazia. Cresceu enquanto pessoa quem já tinha potencial, revelou a sua verdadeira faceta quem andava mascarado. 
Não, não vamos sair daqui todos melhores. Foi intenso, continua a sê-lo, mas o que irá sair daqui, será o que cada um quiser, e na nossa diversidade, queremos todos coisas diferentes.