terça-feira, 19 de outubro de 2021

Ninho vazio

 

Via Esme
Acho que ainda não escrevi aqui sobre esta situação, agora que na realidade posso dar o meu testemunho, pois no espaço de dois anos os meus dois filhos saíram de casa. Na verdade, não foi algo que eu sentisse profundamente, porque devido a esta situação excepcional, do "covid" e tudo o que daí derivou, tem sido uma fase algo particular, e passo a explicar; no primeiro ano do Duarte a Letícia permanecia em casa, e ainda assim, ele saiu em meados de Setembro, e regressou em Março, logo depois das férias de Páscoa. Todos os santos fins-de-semana vinha a casa, de sexta a domingo. Terminou o ano lectivo com aulas online, como foi para todos. 

Para a Letícia as aulas começaram em Setembro de 2020, porém depois do Natal já ficou em casa, em fase de confinamento, também com aulas online. Por ser um curso com uma componente muito prática logo que as regras abrandaram ela passou a ir à Faculdade, mas apenas para uma cadeira, a principal e mais prática do curso. Contudo, foi sempre uma situação muito fluída, e entre estar em casa e estar lá, efectivamente pouco tempo ficou fora de casa. E mesmo assim, também naquele sistema de regresso à sexta, para fim-de-semana. No caso dela, por ser vegetariana e a cantina estar fechada, tinha mesmo que regressar, para levar todas as refeições para a semana. Por conseguinte, os meus filhos estiveram sempre muito presentes, com a excepção de poucas semanas. 

Perante este panorama, será compreensível que eu diga que não senti, propriamente, "o ninho vazio", não é?

No início, algumas pessoas perguntavam-me, expectantes, sobre como me sentia, por os ter fora de casa, mas suspeito que a minha resposta descontraída os deixava desconcertados, e talvez até desanimados; pensaram sempre que seria algo que eu sentisse muito, talvez me deprimisse, não sei. Parece que isso acontece com outras mães, sobretudo com aquelas que se dedicaram aos filhos a 100%. Mas os meus filhos estão bem quando estão fora, e adoram regressar a casa, e depois, falamos todos os dias ao telefone, ou por mensagem, portanto não há de que entristecer! 

Creio, também, que a satisfação de ter sido mãe a tempo inteiro deu-me um certo estofo para aguentar ausências, sem grandes lástimas. Tenho a sensação de ser isso que falta a muitas mães, de sentirem que perderam muitas oportunidades de estarem com os filhos, e que depois, quando eles saem de casa já é tarde demais. E dá-se aquele "baque" da tomada de consciência do tempo que passou e é impossível de recuperar. Não deve ser nada fácil de gerir essas emoções, mas é um processo individual, e pessoal, e cada um saberá da sua vida. Só desejo que consigam desmontar o puzzle e voltar a construí-lo, com serenidade, aceitação, e talvez novas estratégias para compensar aquilo que julguem necessitar ser compensado ou reparado. Porque vamos sempre a tempo de melhorar alguma coisa. 

Em suma, essa história do ninho vazio não é aquela coisa super complicada e deprimente que as revistas dizem. Lembro-me bem de ler esses artigos, há muitos anos atrás, e achar que comigo não seria assim, mas... também pensava, veremos quando lá chegar. Porque não vale a pena sofrer por antecipação, ou pelas experiencias negativas dos outros. Temos apenas de viver um dia de cada vez, fazendo o nosso melhor, e cada dia fazendo-o melhor. E isto já é obra!