Quando os alunos terminam o 12º ano, o normal é não saberem que curso escolher nem sequer terem ideia da profissão que gostariam de exercer. A excepção são aqueles alunos que já o têm muito claro, mas ainda mais raro aqueles que já desde sempre sabem, o emprego que querem ter.
Convenhamos que aos 18 anos é precoce pedir-lhes uma decisão destas. O nosso ensino, totalmente teórico, também não está feito para os auxiliar nesta tomada de consciência; por exemplo, na Alemanha, desde o 9º ano que os alunos fazem estágios em determinadas áreas, sendo essa experiencia muito elucidativa sobre a realidade. Um caso, a filha de uma amiga, estava convencida que queria seguir medicina veterinária, e após o estágio numa clínica veterinária descartou terminantemente a área.
Portanto, perante este panorama, o que nos resta enquanto pais, é assumirmos alguma responsabilidade e ajudarmos os nossos filhos, na reflexão, e escolha. Não disse "condicionar", sei que há muitos pais que inconscientemente vivem os seus sonhos através dos filhos, e sem contemplações pela personalidade deles, os manipulam para escolhas fora da real vocação, resultando, posteriormente, em desfechos muito complicados. Estou lembrar-me da menina que entrou em Medicina, não gostou, pediu transferência para Matemática, e só quando passou para o 2º ano, conseguiu dizer aos pais o que tinha feito. O pai rompeu em lágrimas, pois ter uma filha médica era o seu sonho, e perante isso consigo compreender porque a filha adiou tanto esta conversa. Também consigo imaginar quão angustiada ela viveu nesse ano.
Ouço muito pais a dizerem " O que eu quero é que ele/ela seja feliz!", e esta frase explica que os pais entregaram total responsabilidade da escolha nos filhos; não concordo com esta postura. Os filhos são demasiado inexperientes para saberem que há áreas cuja empregabilidade é nula ou quase nula; que as profissões que vêm em séries não correspondem à realidade; que o que irão auferir como ordenado não lhes vai permitir ter aquela vida com que sonham; que terão de trabalhar por turnos e fins-de-semana, que terão de se deslocar pelo país; que terão de ir para o estrangeiro; etc, etc. E não digo que por isso se deva descartar, felizmente há enfermeiros nos hospitais, 24 sobre 24 horas, 7 dias na semana, mas estas questões devem ser mencionadas e analisadas. Daí é que sairá um escolha ponderada e amadurecida.
Já vejo, há alguns anos, pais a patrocinarem o segundo curso dos filhos porque precisamente, no final do primeiro, os filhos descobrem que afinal não é aquilo que querem fazer. E francamente, não me parece justo que os pais sejam novamente sobrecarregados com esse encargo. Mas... " eu só quero que ele/ela seja feliz" é o mantra justificativo e conformista.
Eu também quero que os meus filhos sejam felizes, mas não os quero na condição de eternos estudantes. Por isso, cá em casa, assumimos essa orientação que, aliás, consideramos obrigação nossa.
A Letícia terminou o 12º na área das Artes ( fez o 10º em CT para concluir aquilo que eu já sabia, não era para ela), a vocação da minha filha esteve sempre nesta área, para mim. Agora a questão era: O que fazer dentro deste departamento? Aconselhei-a a escrever os três cursos que mais lhe interessavam; após isto, a procurar nas faculdades quais eram as cadeiras de cada um; e avaliar aqueles cursos que teriam as que mais lhe interessavam. Pensar, o que poderia fazer com esse curso no mercado de trabalho, e em termos de empregabilidade. Ter um curso em História da Arte parece-me muito interessante, mas como irá exercê-la? Como professora? Como autora? Como investigadora? Nada disso lhe agradava. Ilustração é muito criativo, e imagino que deva causar grande satisfação ver impresso o trabalho, a acompanhar textos ou logos, mas efectivamente onde se arranja emprego como tal? Quem conhecemos nessa área? Tem ordenado mensal garantido ou algo que o valha? Não nos pareceu. Portanto, ficou Arquitetura, por gosto e também por exclusão de partes. Interessantemente, profissão na qual ela também poderá trabalhar pontualmente nas áreas do ensino e ilustração, dada a sua abrangência, que consideramos uma mais-valia. Enquanto há cursos redutores, há outros expansivos, o que possibilita entrar em diferentes áreas.
Perante esta conclusão, a duvida seguinte foi: Concorrer para que Universidade? Novamente, sugeri à minha filha investigar na net o que se dizia sobre as 3 principais universidades, e abundam informações de estudantes, algumas dos quais ela contactou, para saber ainda mais. Para a Letícia, a prioridade era o ambiente académico, onde o companheirismo existisse, e infelizmente nem todas primam nesse quesito. Há faculdades onde o nível de competição atinge uma agressividade chocante. A média dela permitia-lhe escolher a mais procurada, mas ela não quis, devido a essa circunstancia.
Escolheu bem, apesar de ser um curso muito trabalhoso que exige extrema dedicação, ela gosta dele. E a Universidade em particular, foi também uma óptima escolha.
Não tive que impor nada à minha filha, embora no início do Verão ela tivesse falado em Lisboa, o que não nos agradou absolutamente nada, não tivemos que lhe dizer não, que diríamos, pois ela própria chegou a essa conclusão, após uma semana de férias na capital. Benditas férias!
Enfim, é possível conversar com os nossos filhos sobre este assunto sem conflitos, e é obrigação dos pais envolverem-se nestas escolhas. Nós temos mais experiencia, conhecemo-los melhor do que eles próprios ( nestas idades, pelo menos), e afinal somos nós que vamos despender mensalmente valores consideráveis, pelo que a nossa palavra dever ter peso, muito peso.