Há romances-históricos que são mais romances, outros que são mais históricos, é o caso deste. Várias vezes, motivada pelo livro, consultei a enciclopédia da história de Portugal, para me informar mais e melhor.
A imagem com que ficamos de Leonor Teles é péssima, graças à história que nos é contada na escola, porém, será que ela foi realmente assim tão má pessoa, tão péssima rainha e mulher? Nunca antes ouvi o outro lado da história. A versão de Leonor Teles, e é o que este livro pretende fazer.
Narrado na 1ª pessoa, num tom confessional, e em seus últimos dias de vida, Leonor Teles propõe-se contar a sua vida de forma isenta.
Casou em primeiras núpcias com um nobre, de quem teve um filho; sendo, todavia, um casamento arranjado pela família, como habitual na época, e classe, nunca amou o marido. Por isso, quando conheceu D.Fernando, o rei de Portugal, um jovem muito bonito, rico e poderoso, e ele se apaixonou por ela, não teve pejo em largar a família que constituíra e voltar a casar.
D.Fernando conseguiu que o Papa anulasse o primeiro casamento de Leonor, invocando os laços de sangue que uniam marido e mulher. No entanto, este casamento não era da vontade do povo - para quem o 1º casamento não perdera valor - que o fez saber ao monarca, pedindo-lhe que casasse antes com uma princesa de outra nação, ou então uma nobre de calibre semelhante ao seu. O rei prometeu que o faria, mas não cumpriu.
Por infortúnio, das várias gravidezes de Leonor Teles, apenas a princesa Beatriz sobreviveu, tornando-a herdeira do trono de Portugal. Os reis combinaram o casamento da filha com o 2º filho do rei de Castela, numa tentativa de selar a paz entre os dois reinos, porém o noivo morre inesperadamente antes do casamento, e o Rei castelhano propõe ser ele próprio a casar com D.Beatriz.
Os monarcas portugueses aceitam, na condição de que o castelhano nunca reclamasse o trono português, que viria a ser ocupado pelo filho deles, que por sua vez seria entregue à rainha Leonor para ser educado em Portugal, como herdeiro legítimo do trono do reino.
Entretanto, a nobreza portuguesa não estava inteiramente satisfeita com o seu rei. Os irmãos bastardos de D.Fernando ( filhos de Inês de Castro) e o mestre de Avis, conspiravam na sombra. Outros nobres queixavam-se dos favores que o clã Teles de Meneses recebia do rei. A sociedade civil por seu lado enfrentava anos de fome, com os maus anos agrícolas. As guerras com Castela também não ajudavam. O cenário era negro.
Portanto, quando D.Fernando morre precocemente, deixando D.Leonor Teles como regente, a situação política é instável, um autentico barril de pólvora. Claro que a rainha esperava reinar, até que a filha D.Beatriz lhe enviasse o tal herdeiro do trono.
Porém, em apenas dois meses, dá-se uma viravolta tal, com a pretensão ao trono dos filhos de Inês de Castro, do mestre de Avis e do próprio rei de Castela, que entra em Portugal a convite do D.João e posteriormente de D.Leonor, e o barril de pólvora explode.
Todos disputam o trono, mas vão sendo "eliminados", até que fica apenas o mestre de Avis e o rei de Castela, com a derrota final para este último, graças à peste que graçou entre os soldados espanhóis, e o auxílio militar dos ingleses.
Esta é a sinopse.
Gostei imenso do livro porque me deu uma visão humana de Leonor Teles; como qualquer narrativa na primeira pessoa, apresenta uma versão mais "simpática" de si própria, no entanto, também não renega o que de mal fez.
Eu acho que posso compreender Leonor Teles. Que mulher, jovem e excepcionalmente bela, poderá resistir ao amor, com um rei igualmente belo e poderoso? Mesmo sendo casada, se o não era por amor? Que o diga Helena de Tróia.
Não compreendo é que se deixe um filho para trás. Mas entendo que ela era suficientemente ambiciosa para preferir fazer esquecer esse seu primeiro episódio de vida, mantendo o filho afastado de si.
Porém, acho que foi pelo facto de ter sido casada e mãe que o povo português nunca lhe perdoou. Lhe chamou "barregã" até ao fim. E os seus inimigos souberam aproveitar esta imagem para a denegrir ainda mais, até que ninguém duvidasse que era amante do conde Andeiro.
Por outro lado, ela errou ao não ter sido capaz de conquistar o povo ao longo dos anos; poderia ter tido preocupações sociais, como outras rainhas, e assim granjear a simpatia e até amor do povo. Acho que se isolou num pedestal esperando orgulhosamente vassalagem.
Apesar de tudo, concluí que a história não tem sido justa para Leonor Teles; porém, como a história é escrita pelos vitoriosos a versão que temos é a do Mestre de Avis, que também não foi nenhum santo ( aliás, com algumas prestações nada dignas!), assim como Leonor Teles não foi apenas um diabo.
Finalmente, parece-me que foi melhor assim para Portugal; não vejo porque seria Leonor Teles regente de um pais, quando nem sequer havia herdeiro para lhe suceder. Havia sim, filhos do rei D.Pedro, não importa que fossem bastardos. E D.João I revelou-se um bom rei, nem que apenas fosse por ter dado vida à Ínclita Geração.
Leitura muito aconselhada. Aliás, nota-se pelo longo texto como me fascinou!
Leonor Teles ou o canto da salamandra
Seomara da Veiga Ferreira
Editorial Presença
324 pág.
Até breve!
A imagem com que ficamos de Leonor Teles é péssima, graças à história que nos é contada na escola, porém, será que ela foi realmente assim tão má pessoa, tão péssima rainha e mulher? Nunca antes ouvi o outro lado da história. A versão de Leonor Teles, e é o que este livro pretende fazer.
Narrado na 1ª pessoa, num tom confessional, e em seus últimos dias de vida, Leonor Teles propõe-se contar a sua vida de forma isenta.
Casou em primeiras núpcias com um nobre, de quem teve um filho; sendo, todavia, um casamento arranjado pela família, como habitual na época, e classe, nunca amou o marido. Por isso, quando conheceu D.Fernando, o rei de Portugal, um jovem muito bonito, rico e poderoso, e ele se apaixonou por ela, não teve pejo em largar a família que constituíra e voltar a casar.
D.Fernando conseguiu que o Papa anulasse o primeiro casamento de Leonor, invocando os laços de sangue que uniam marido e mulher. No entanto, este casamento não era da vontade do povo - para quem o 1º casamento não perdera valor - que o fez saber ao monarca, pedindo-lhe que casasse antes com uma princesa de outra nação, ou então uma nobre de calibre semelhante ao seu. O rei prometeu que o faria, mas não cumpriu.
Por infortúnio, das várias gravidezes de Leonor Teles, apenas a princesa Beatriz sobreviveu, tornando-a herdeira do trono de Portugal. Os reis combinaram o casamento da filha com o 2º filho do rei de Castela, numa tentativa de selar a paz entre os dois reinos, porém o noivo morre inesperadamente antes do casamento, e o Rei castelhano propõe ser ele próprio a casar com D.Beatriz.
Os monarcas portugueses aceitam, na condição de que o castelhano nunca reclamasse o trono português, que viria a ser ocupado pelo filho deles, que por sua vez seria entregue à rainha Leonor para ser educado em Portugal, como herdeiro legítimo do trono do reino.
Entretanto, a nobreza portuguesa não estava inteiramente satisfeita com o seu rei. Os irmãos bastardos de D.Fernando ( filhos de Inês de Castro) e o mestre de Avis, conspiravam na sombra. Outros nobres queixavam-se dos favores que o clã Teles de Meneses recebia do rei. A sociedade civil por seu lado enfrentava anos de fome, com os maus anos agrícolas. As guerras com Castela também não ajudavam. O cenário era negro.
Portanto, quando D.Fernando morre precocemente, deixando D.Leonor Teles como regente, a situação política é instável, um autentico barril de pólvora. Claro que a rainha esperava reinar, até que a filha D.Beatriz lhe enviasse o tal herdeiro do trono.
Porém, em apenas dois meses, dá-se uma viravolta tal, com a pretensão ao trono dos filhos de Inês de Castro, do mestre de Avis e do próprio rei de Castela, que entra em Portugal a convite do D.João e posteriormente de D.Leonor, e o barril de pólvora explode.
Todos disputam o trono, mas vão sendo "eliminados", até que fica apenas o mestre de Avis e o rei de Castela, com a derrota final para este último, graças à peste que graçou entre os soldados espanhóis, e o auxílio militar dos ingleses.
Esta é a sinopse.
Gostei imenso do livro porque me deu uma visão humana de Leonor Teles; como qualquer narrativa na primeira pessoa, apresenta uma versão mais "simpática" de si própria, no entanto, também não renega o que de mal fez.
Eu acho que posso compreender Leonor Teles. Que mulher, jovem e excepcionalmente bela, poderá resistir ao amor, com um rei igualmente belo e poderoso? Mesmo sendo casada, se o não era por amor? Que o diga Helena de Tróia.
Não compreendo é que se deixe um filho para trás. Mas entendo que ela era suficientemente ambiciosa para preferir fazer esquecer esse seu primeiro episódio de vida, mantendo o filho afastado de si.
Porém, acho que foi pelo facto de ter sido casada e mãe que o povo português nunca lhe perdoou. Lhe chamou "barregã" até ao fim. E os seus inimigos souberam aproveitar esta imagem para a denegrir ainda mais, até que ninguém duvidasse que era amante do conde Andeiro.
Por outro lado, ela errou ao não ter sido capaz de conquistar o povo ao longo dos anos; poderia ter tido preocupações sociais, como outras rainhas, e assim granjear a simpatia e até amor do povo. Acho que se isolou num pedestal esperando orgulhosamente vassalagem.
Apesar de tudo, concluí que a história não tem sido justa para Leonor Teles; porém, como a história é escrita pelos vitoriosos a versão que temos é a do Mestre de Avis, que também não foi nenhum santo ( aliás, com algumas prestações nada dignas!), assim como Leonor Teles não foi apenas um diabo.
Finalmente, parece-me que foi melhor assim para Portugal; não vejo porque seria Leonor Teles regente de um pais, quando nem sequer havia herdeiro para lhe suceder. Havia sim, filhos do rei D.Pedro, não importa que fossem bastardos. E D.João I revelou-se um bom rei, nem que apenas fosse por ter dado vida à Ínclita Geração.
Leitura muito aconselhada. Aliás, nota-se pelo longo texto como me fascinou!
Leonor Teles ou o canto da salamandra
Seomara da Veiga Ferreira
Editorial Presença
324 pág.
Até breve!