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De há
uns tempos para cá, noto cada vez mais que existe um tipo de discurso
desprovido de conteúdo, que se está a generalizar.
Parece-me
que começou na política, e daí se foi estendendo a outras áreas, como a
literatura, publicidade e a determinadas áreas profissionais. Devido a essa
adesão crescente, assentou arraiais de forma despudorada, em qualquer meio de comunicação.
Há dias,
estava a ler uma entrevista a respeito do Turismo em Portugal, cujo tema me
interessa sobremaneira, e senti-me atónita, quando no final do artigo, não
consegui exprimir uma ideia do que ali foi dito.
A
revista era temática, a entrevista era extensa, de várias páginas; a
entrevistada, uma pessoa de grande responsabilidade dentro do sector. Mas não
disse absolutamente n-a-d-a.
A
perguntas muito directas, e substanciais, sucediam-se respostas deste teor:
“ Eu não
sei se estamos limitados de verbas, mas sei que é possível ser mais eficiente e
fazer mais. Sendo os recursos escassos, temos que os alocar onde eles são mais
eficazes, onde o retorno é maior”.
Confirmou
se estavam limitados de verbas, ou não? Não sabe.
Disse em
que se podia fazer mais? Não.
Disse
onde se poderiam “alocar” estes tais recursos? Também não.
Disse
onde era maior o retorno? Não, novamente.
Obviamente,
esta é apenas uma resposta, a título de exemplo, porém todas as outras não
saíram desta equação: informação zero. Garanto-vos, por mais espantoso que vos
possa parecer.
O que me parece a mim, é que pessoas com postos de visibilidade e responsabilidade, em áreas onde muitos acreditam ser o futuro de Portugal, como é o caso do Turismo, deveriam dar entrevistas mais eficientes. Contribuir com ideias realistas e concretas, para que possam ser postas em prática por quem as lê. Não são estas pessoas que apontam direcções?
Caso
contrário, onde está a utilidade de revistas especializadas, e deste tipo de
profissionais? Se não conseguem exprimir numa entrevista, pontos de vista inovadores
e apresentar ideias possíveis e eficazes, o que estarão a fazer nos seus gabinetes?
Tenho
uma certa dificuldade em acreditar que profissionais, debitadores de discursos
ocos, sejam competentes. Porque uma coisa é o reflexo da outra. Caramba, não
estou a falar de filosofia!
Quando
começo a ouvir, ou ler, alguém cujo discurso é muito articulado com clichés,
respingado de estrangeirismos e palavras técnicas, a crítica que há em mim,
fica logo em
sentido. Normalmente, no fim dos discursos, espremo e não sai
nada.
Porém,
estas pessoas mostram-se muito satisfeitas com elas mesmas. Ufa… saíram-se tão
bem; a verborreia atingiu em cheio os cérebros de quem os ouve,
paralisando-lhes os neurónios!
E o pior
é que eles estão por todo o lado, a pronunciarem palestras, a darem entrevistas
a jornais e revistas, e a falarem na televisão.
Entre
entrevistas destas e a Casa dos Segredos como não há-de o povo português
sentir-se catatónico? É que da parra nunca saiu nada!