quarta-feira, 21 de maio de 2014

A Coragem das Outras

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É um lugar-comum dizer, quando vivemos em democracia desde que nos recordamos, que damos as nossas liberdades por garantidas. Desde aquelas grandes coisas, como votar no partido que defendemos, às pequenas, como escolher uma peça de roupa muito curta, ou decotada. E a vida é assim tão natural que realmente nem a valorizamos.

Muito menos faria sentido imaginarmo-nos agora sem essa liberdade para levarmos a vida como entendermos. Imaginar a perda desse poder é  per se um exercício surreal, que faz lembrar  filmes de ficção. Um ensaio mental desprovido de sentido.

As nossas pequenas liberdades, são tão nossas como o ar que respiramos, e apesar de inconscientes, necessitamos delas como do oxigénio para viver, se porventura nos fossem retiradas. Mas... vivemos numa ínfima parte do globo.

Não é novidade para ninguém que, há lugares no mundo onde essas liberdade mais básicas são restritas e por vezes exclusivas, do género, da religião, da política. A título de exemplo, recordo-me da controversia sobre a proibição das mulheres conduzirem na Arábia Saudita, que ecoou na nossa imprensa, graças à perplexidade que causou.Ou da imposição do corte de cabelo ao estilo do lider, na Corea do Norte.Tudo isso nos parece próprio de outro mundo, um mundo paralelo e esquizofrénico, talvez.

Há dias, deparei-me com esta página do FB, criada por mulheres iranianas que num gesto de ousadia e inconformismo se fotografam sem o lenço na cabeça. A coragem indómita destas mulheres comoveu-me imenso, e por isso deixei um comentário de incentivo, numa das fotos.

Mal consigo imaginar que um gesto tão simples como deixar o cabelo ao sol, livre para esvoaçar ao vento, exposto para ser admirado, ou apenas para estar ali, possa acarretar riscos para alguém. Penas severas, prisão e sabe-se lá que mais.

Há certas questões que baralham a minha compreensão; o meu raciocínio deambula perdido e encurraldo num arrazoado de suposições para entender, por que tal é considerado pecado?

Solidarizo-me com elas, de quem me sinto irmã, mas não consigo deixar de pensar que me é fácil, e sobretudo, gratuíto faze-lo cá do alto.
No fim de contas, de que serve o meu apoio e compreensão para a luta delas? Nada. Serve-me a mim, a luta destas mulheres, e assim me faço pequenina, sentindo que isto de falar do alto para baixo não é assim tão linear.