O início habitual, pobreza, fome, falta de abrigo, empregos precários e mal pagos, difícil pagar contas e sobreviver, intercalando com o desenho e a escrita, encontros com pessoas que se tornam importantes na sua história, alusão a outras que fazem parte da história da música, da fotografia, museologia, jornalismo, literatura, enfim, das Artes. As mortes emblemáticas de cantores, ainda jovens, devido ao consumo intenso de ácidos e outras drogas, tão em voga na época, alguns acontecimentos de impacto nacional, e até internacional.
Para quem viveu a juventude na década de 60 e 70, certamente encontrará no livro referencias que lhe façam sentido, sobretudo o público norte-americano, daí até compreendo que seja um best-seller do New Yor Times, porém para mim, portuguesa, cuja juventude foi passada nos anos 80 e 90, quase nada me diz relativamente ao cenário musical e menos me diz, em termos de nostalgia.
Patti Smith teve, evidentemente, uma vida interessante, e sendo poetisa esperava dela algo mais profundo e pessoal, não um desfilar de nomes de pessoas, sítios, datas e acontecimentos, como se transcritos de uma agenda. Falta-lhe emoção, é uma escrita muito seca. Já nem menciono momentos chave que foram minimizados (para não dizer suprimidos), e que não compreendo, porém sobre aquilo que escreveu, no seu aspecto mais humano, foi parca em sentimentos, ou em sinceridade, mas se foi este o caso, nem deveria ter-se aventurado nesta escrita. Por exemplo, não acredito que tenha sido tão estóica como pretende, perante a traição consecutiva do namorado, pior ainda com o mesmo sexo. Afinal, tratava-se do amor da vida dela, digo eu, porque ela não o assume, não tão claramente; somente nas poucas páginas finais transparece o amor que tinha a Richard, de uma forma quase avassaladora, porque antes foi extremamente contida.
No fim, tive curiosidade em saber porque a Letícia o tinha comprado, ela contou-me que tinha sido dica de uma YT sobre literatura que segue, e cujas dicas antes lhe tinham agradado. Porém, sentia-se como eu no final, esperava mais, a narrativa não a tinha convencido, faltava-lhe sentimento.
É portanto um livro que aconselho com reservas, para os admiradores da Patti Smith, para os estudiosos da Música ou História dos anos 60 e 70, para os apreciadores de biografias, talvez.
Título: Apenas Miúdos
Autora: Patti Smith
Editora: Quetzal Editores
Nr de Págs: 344