quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

O Filho Preferido

 Estávamos a conversar num grupo de mães sobre filhos preferidos, uma delas contou que a sobrinha queria forçar a mãe a assumir que o irmão era o filho preferido, "que aliás já toda a gente o sabia", e ela parecia estar bem com isso; e outra que ainda nenhum dos filhos lhe tinha colocado essa questão, e que nem saberia como responder. 

Relativamente à primeira situação não me senti nada convencida de que ela estaria "bem com isso", até me senti um pouco triste, por ela, pois a não ser que essa filha tenha tido um problema grave com a mãe, ou diversos confrontos ao longo da vida, por exemplo, muito dificilmente aceitará com tranquilidade que a mãe prefira o irmão, a ela. Ou seja, para mim, tem que existir uma razão para que a progenitora prefira um filho em detrimento dos outros. E uma razão realmente forte! 

Certamente que teremos mais afinidades com um filho do que com outro, mas não creio que isso o faça automaticamente preferido; também há casos em que um filho precisa mais de atenção, devido a problemas de saúde, de comportamento, etc. , o que não significa que a preocupação, ou acompanhamento mais próximo, o torne em filho preferido. São coisas diferentes, e que devem ser claramente explicadas, no seu contexto, aos filhos.  

Quanto à segunda questão, comentei com essa mãe, que quando os meus filhos ma fizeram lhes disse, simplesmente, que ele era o meu filho preferido, e ela a minha filha preferida, arrumando assim a situação a contento de ambos. Daí que ela acabou por partilhar a história de um amigo, que sempre se tinha sentido muito especial porque a mãe em criança lhe dissera que ele era o seu filho preferido, mas para guardar segredo, para não magoar os irmãos; anos mais tarde ele descobriu que a mãe tinha dito o mesmo aos outros irmãos! Parece, todavia, que não houve drama com a descoberta, ele já tinha desfrutado de uma infância feliz, julgando-se especial, e que isso lhe dera confiança. 

Pessoalmente, não seria uma opção que eu fizesse, faz-me muita confusão esta estratégia do segredo, e da eventual decepção que a descoberta poderia causar. Porém, para aquela família funcionou, a história até se tornou uma espécie de anedota. 

Entendo que a questão me tendo sido feita, pelos meus filhos, tem dois aspectos positivos, um sendo que tiveram frontalidade e à vontade para ma fazer; e dois, que o meu tratamento a um e outro deve ser bastante igual, para não dizer exactamente igual, de forma que não fosse vista alguma preferência, caso contrário, ter-me-iam confrontado com a suspeita, como no caso da história acima mencionada. 

Sinceramente, enquanto mãe, não vejo como se pode ter um filho preferido, e reparem que eu tenho dois muito diferentes em personalidade! Sendo que um deles tem muito mais em comum comigo. Mas o outro tem coisas que também nos são comuns, e outras que me trazem benefícios por serem diferentes!

Está-me aqui a ocorrer, que assim é mesmo fácil desunir a humanidade, se a falta de união já vem do interior da família. Mais outra historinha que já vem dos tempos bíblicos, com Caim e Abel. Já chega, não?! Não há filhos preferidos, podem ser diferentes, e até tratados diferentemente, mas são todos amados. Ou deveriam.