O meu sonho era ter uma buganvília; que ela crescesse encostada às paredes brancas do anexo do jardim, exibindo o contraste rosa fucsia das flores, numa reminiscência das casas algarvias.
Durante vários anos tentei reproduzir o meu sonho, sem sucesso. Invariavelmente a geada do Inverno queimava as buganvílias, mesmo debaixo de protecções plásticas.
Até que um dia, há cerca de 4 anos atrás, comprei no Horto um pé de glicínia roxa, para as crianças oferecerem ao pai, a 19 de Março. Fizemos um caramanchão de madeira no jardim, e a glicínia imediatamente sentiu que tinha encontrado a sua casa, crescendo em direcção ao topo, agarrando-se às vigas de madeira com os seus frageis braços, exibindo verdes folhas, perfeitamente recortadas.
Colocamos a mesa do café por baixo do caramanchão e esperamos. Na primavera passada (ao 3º ano), a glicínia ofereceu-nos as suas primeiras flores, e o nosso café passou a ser ainda mais aromático.
Não consigo descrever toda a alegria, sombra e beleza que esta glicínia nos tem proporcionado; há dois anos atrás, ficou coberta de pulgões e eu inquietei-me por não saber como a limpar sem utilizar químicos. Para nosso grande espanto, de um dia para o outro a trepadeira ficou coberta de joaninhas ( eu adoro este insecto da minha infância, que se tem tornado raro), que durante semanas limparam afincadamente a glicinia destes parasitas. Pela primeira vez, vimos três tipos de joaninhas: pretas com bolinhas vermelhas, vermelhas com bolinhas pretas e amarelas com bolinhas pretas.
No ano passado foram as abelhas; vindas não se sabe de onde, fizeram da nossa trepadeira armazém de material de construção, durante todo o verão. Foi emocionante, vê-las a recortarem pedaços de folha, maiores do que elas próprias e transportá-los via aérea, para as suas colmeias.
À medida que as flores caiam, foram surgindo algumas favas, que permaneceram estoicamente agarradas aos ramos, durante todo o Inverno, enfrentando chuvas torrenciais, ventos agrestes, geada e temperaturas baixas.
Até esta semana. Subitamente, seguindo provavelmente algum calendário natural , sem aviso prévio nem sinal de mudança, as favas começaram a cair, abrindo-se ao meio, e soltando as sementes.
Sinal mais explícito do que este não poderia a glicínia falar; as sementes procuram a terra, para se enterrarem, dormirem durante algum tempo, e um belo dia brotar em direcção à luz do sol, crescer, dar folhas e flores. Enfim, cumprir a sua missão.
Estas sementes procuram um lar. Tudo o que elas pedem:
1º Espaço para crescer, um vaso numa varanda não será suficiente.
2º Um jardineiro paciente, porque o processo demorará algum tempo.
3º Alguém que adore o jardim, que não se esqueça de regar!
E como só tenho quatro "conjuntos" de sementes, terei muito gosto em enviá-los aos primeiros quatro candidatos a comentar.
Tenha uma óptima semana!
Adenda: Para além das joaninhas, há outra forma natural de acabar com as colónias de pulgões; veja aqui.