segunda-feira, 6 de junho de 2022

Juventude roubada

Como é que um jovem entrado na casa dos vinte, incontestavelmente bonito, obviamente inteligente e empenhado, provado pelo curso e universidade que faz e frequenta, pode ter problemas de auto-estima? Para mim, trata-se um caso de boicote interno, ou seja, os seus pais destruíram-no. 

Bem sei que quando nascemos não somos uma folha em branco, que os progenitores desenham e pintam a seu bel-prazer, aliás, como mãe de dois, aprendi com a experiência que os filhos já trazem uma carga mais ou menos forte de personalidade que os distingue. Porém, também reconheço na educação parental um papel impactante, na construção da pessoa que cresce e se desenvolve, debaixo do nosso telhado. 

Já há muitos anos tinha constatado que grande parte dos pais educava erradamente os filhos, não os respeitando enquanto pessoas possuidoras de personalidades diferentes das suas, que deveriam ser ouvidas e consultadas ( embora a decisão final deva caber aos pais, por diversos motivos, mas claramente explicadas aos filhos), e fosse por imposição ditatorial, fosse por laxismo, ou abdicação do poder parental, ora os filhos eram excessivamente orientados, ora eram excessivamente livres. Encontrar o equilíbrio entre um caminho e o outro foi sempre um objectivo para mim, e pese embora a dificuldade e canseira dessa linha-guia, penso que me orientei razoavelmente. 

Em resumo, na educação de uma criança temos de considerar que nos "é dado" um filho que não é uma folha em branco, e temos de o educar segundo os valores em que acreditamos, conciliando já com a sua personalidade, por uma questão de respeito para com ele, pela sua natureza, a sua alma. 

Eu não vejo isto de todo. E se já antes não o via, agora, "mais-ou-menos-pós-pandemia" vejo a situação muito mais agravada; estes pais puseram na prole o ónus da saúde familiar, tendo os filhos de conciliar vida privada, estudantil e família. Com isso estão a impedi-los de viver; não saem com os amigos, não vão à Queima, não vão a concertos, a festas de aniversário, continuam ainda com a máscara, mantêm ainda distância física, acabaram-se portanto os beijinhos nos cantos dos bares e discotecas, e ainda menos se proporcionam os namoros. 

De tudo o que a juventude tem de bom, divertido e novo abdicam, para não "matar o avô", ou levar o vírus para casa. Já basta o risco que correm nas salas de aula! 

Como não querem que os filhos estejam tristes, deprimidos, infelizes?! Curiosamente, são estes que mais têm estado doentes, e isso até já é muito notado, e comentado entre colegas. Pelo menos isso. 

Li algures, e há uns tempos, que vai acontecer algo inédito na história da humanidade, que esta geração vai morrer antes dos seus pais, e perante todo o quadro actual começo a crer que é muito possível. E a responsabilidade será dos próprios pais. 

É lamentável ver aqueles que deveriam zelar pelo bem-estar e felicidade dos filhos, estarem a fazer exactamente o oposto. E muito triste ver o resultado de tudo isso.