terça-feira, 28 de março de 2023

Dica de Leitura: Elizabeth and her German Garden

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Dado que tenciono ler outro livro desta autora vou dedicar-lhe, desta vez, uma apresentação mais extensiva, que pelo menos contextualize este livro. Para a biografia completa, ler aqui.

Elizabeth von Arnim nasceu na Austrália, no seio de uma família rica; aos 3 anos os pais decidem mudar-se para Inglaterra, o pai era inglês, deslocando-se pela Europa, e fixando mesmo residência na Suiça. A dada altura voltaram para Inglaterra, onde Elizabeth, inteligente e musicalmente dotada, estudou no Royal College of Music, Órgão. Aos 20 anos, os pais organizaram um passeio pela Europa para lhe encontrar noivo; em Roma conheceu o recém-viúvo Raff Henning Von Arnim Schlagenthin, membro da aristocracia prussiana. Ele ficou cativado pela inteligência, vivacidade e talento de Elizabeth, pelo que 2 anos mais tarde casavam em Londres. Moraram inicialmente em Berlim, e do casamento nasceram rápida e sucessivamente 3 meninas. Foi numa viagem ao campo, pelas propriedades do marido que Elizabeth descobriu e se apaixonou pela casa de Nassenheide, na Primavera de 1896, convencendo-o a mudar a família para aí. 

Este livro resulta de uma espécie de diário que Elizabeth inicia na nova residencia, a propósito do jardim, que descurado durante anos se tornara uma selva, e que a nova moradora tenciona recuperar. Não se espera certamente que uma senhora, aristocrata, se dedique a tal tarefa na primeira pessoa, nem sequer que lhe devote grande importância, mas Elizabeth não consegue ficar longe dele. É o seu sítio preferido para ler, é aí que descobre a tranquilidade, onde é mais feliz. 
De jardinagem não percebe, mas instruí-se com os livros, e se no início era o jardineiro quem decidia, a senhora da casa foi descobrindo a sua voz. Para Elizabeth o jardim tornou-se uma espécie de laboratório de experiências, dedicando-lhe tempo e dinheiro próprio, para perplexidade do marido, que esperaria que o fizesse antes com vestidos. Mas o livro não versa apenas sobre jardinagem; o relato ganha um fôlego extra a propósito de duas visitas, que chegam para o Natal, Irais, amiga da anfitriã, e conhecida cantora, e Minora, uma desconhecida e jovem estudante inglesa, aceite como especial favor a um amigo.
 
A estadia das duas visitas prolonga-se por semanas, dando azo a diversos episódios em que os costumes, leis, formas de pensar, estar e fazer são revelados, para espanto de Minora e gáudio das outras duas senhoras. A diferença de culturas não se esbate para uma leitora do século XX ou XXI, como eu, também perplexa com a comparação das mulheres a crianças e imbecis, perante a Lei alemã, no final do séc.XIX. Ou pelo inusitado costume da lavagem das roupas apenas 4 vezes ao ano, sendo a roupa suja acumulada, e a substituição dessa pela limpa significar a abundância e riqueza da casa. 
Há confrontos de ideias entre elas, mas também entre elas e ele, o Man of Wrath, como a esposa o apelida. Os debates são muito interessantes e estimulantes. E também cómicos por vezes, aliás o sentido de humor de Elizabeth repercute por toda a narrativa. 

O livro foi publicado em 1898 e imediatamente se tornou um sucesso, providenciando a Elizabeth um rendimento considerável. 

Infelizmente, este livro não está traduzido, pelo que o li em inglês, e confesso que embora o meu domínio da língua seja bastante bom, não foram poucas as vezes que consultei o dicionário. Creio que o vocabulário reflecte a classe, com palavras distintas, e também época, com palavras caídas em desuso. Mas a leitura valeu tanto a pena!
Identifiquei-me com a autora relativamente ao jardim, e ao que sente por ele: What a happy woman I am living in a garden, with books, babies, birds, and flowers, and plenty of leisure to enjoy them!
Compreendi-a diversas vezes, como sobre a ânsia pela solidão. Mas também sobre muitas das suas reflexões e humor. Que mulher tão extraordinária! Tão profunda e multifacetada. Foi certamente alguém que se destacou numa sociedade tão regrada e convencional, tal como uma flor espontânea e colorida que surge num jardim rigorosamente desenhado. Espero que a metáfora lhe faça jus. 

É lamentável que actualmente as editoras não invistam nestas obras, antes se dedicando a estragar papel com outras que em nada contribuem para a cultura. 
Para mim, este livro entra para a minha Lista dos preferidos, aliás, estou a lê-lo pela segunda vez, entre as outras leituras que entretanto faço. 

Título: Elizabeth and her german Garden
Autora: Elizabeth Von Arnim
Editora: Penguin English Library
Nr de págs: 104