Quando
criança adorava a ideia do Pai Natal. De tal forma que quando uma amiga, que
tinha irmãos mais velhos, me disse que ele não existia, não acreditei. Fui
perguntar à minha mãe, e como ela achou que já estaria na hora de eu saber,
confirmou. Lembro-me da decepção enorme, e da dificuldade que tive em aceitar
essa notícia.
No
entanto, continuo a pensar que a fantasia do Pai Natal é muito boa, enquanto
dura. Por isso, também envolvi os meus filhos nessa crença, e constatei que a
viviam exactamente como eu, e como qualquer criança. Quando o Duarte entrou para
a escola temi que os colegas, lhe desvendassem o segredo. O que para nosso
alivio não aconteceu.
Outros
Natais vieram e as crianças iam-me contando que o colega y ou amigo X, diziam não acreditar no Pai Natal, ao que eu respondia, com a intenção de retardar
a resposta definitiva, que talvez não tivessem a capacidade de acreditar no
invisível.
No ano
passado, quando o Natal se aproximou, e as conversas sobre presentes, entre as
crianças ficaram na ordem do dia, a Letícia disse-me que na turma dela já
ninguém acreditava no Pai Natal.
Lembro-me
perfeitamente desse momento. Olhei para o Duarte, antes de responder, porque
sabia o quanto lhe era cara a ideia do velhinho das barbas brancas. E seguindo o
meu mote habitual ( se têm maturidade para perguntar, têm para saber), ia a
confirmar, quando o Duarte me interrompeu apressadamente:
- Não
quero saber da tua turma, Letícia; eu acredito, e quero continuar a acreditar,
no Pai Natal.
A
Letícia olhou para mim e eu encolhi os ombros ligeiramente, num sorriso
cúmplice. Mais tarde conversamos as duas, e eu confirmei-lhe que realmente o
Pai Natal não existia, que eram os pais que davam os presentes. Contei-lhe a
minha própria experiência sobre ter descoberto essa verdade. Perguntei-lhe se
teria preferido nunca ter acreditado no Pai Natal; ela respondeu que não, que
tinha gostado muito dessa fantasia. Combinamos que não falaríamos nada sobre o
assunto com o Duarte, porque ele ainda não estava preparado para aceitar a
inexistência do Pai Natal.
Enquanto
a irmã mais nova estava.
E assim,
o Duarte passou um último Natal, vivendo essa fantasia. Tinha 10 anos. Logo
depois, ele mesmo tomou a iniciativa de conversar comigo sobre o Pai Natal e
verbalizou aquilo que já intuía há muito (e
ouvira dos amigos, mas optara por ignorar); e rematou a conversa dizendo: - É
pena que o Pai Natal não exista; é que assim, nós tínhamos presentes dele, e
dos pais!
Não acho
que seja nenhum drama acreditar no Pai Natal, e um dia ser confrontado com o
facto de ser apenas uma história, e que são os pais a oferecerem os presentes.
Pelo contrário; é uma
história maravilhosa, que torna o Natal ainda mais mágico para as crianças, e
para os adultos que as rodeiam, ao vivenciarem aquela alegria.
Na minha
opinião, não existe idade para deixar de acreditar no Pai Natal; como em tantas
outras coisas, a maturidade de cada criança é o indicador que regula esse
momento da revelação. Pena é que a capacidade de fantasia das crianças,
actualmente, parece acabar cada vez mais cedo!
Até
breve!