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A tarde
da Véspera de Natal era passada na cozinha, a preparar os doces tradicionais. A
mãe dirigia a cozinha com a firmeza dos muitos Natais passados a exercitar
esses rituais. As filhas seguiam as instruções, sem grande vontade, porém
animadas com a perspectiva de comerem a primeira rabanada, ainda quente.
Ao fim
da tarde, o pai chegava da rua, e lançando um olhar apreciativo às rabanadas, pedia uma para lanche, que a mãe
retirava da travessa, já com dois ou três andares, a contra-gosto. Não gostava
de ver diminuir o fruto do seu trabalho, antes das travessas irem para a mesa.
Porém, escolhia a melhor das rabanadas, a mais bonita, perfeitamente dourada e ainda quente, colocando-a
num prato de sobremesa, em frente ao marido.
- Está
muito boa! Comentava ele por fim, afastando de si o prato, e bebericando
um cálice de Vinho do Porto. Parco em palavras, e mais ainda em elogios,
pronunciava o único cumprimento dirigido às rabanadas, durante todo o Natal.
E
naquele momento, a filha mais velha tinha a sensação, de que a mãe daria a travessa
das rabanadas, com os seus dois ou três andares, de bom grado, ao marido.
Há-de
ser sempre assim que hei-de recordar das tardes de Véspera de Natal; do meu
pai e das primeiras rabanadas.
Tenha
um Feliz Natal!