segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Uma memória de Natal


Receita aqui
A tarde da Véspera de Natal era passada na cozinha, a preparar os doces tradicionais. A mãe dirigia a cozinha com a firmeza dos muitos Natais passados a exercitar esses rituais. As filhas seguiam as instruções, sem grande vontade, porém animadas com a perspectiva de comerem a primeira rabanada, ainda quente.

Ao fim da tarde, o pai chegava da rua, e lançando um olhar apreciativo às rabanadas, pedia uma para lanche,  que a mãe retirava da travessa, já com dois ou três andares, a contra-gosto. Não gostava de ver diminuir o fruto do seu trabalho, antes das travessas irem para a mesa. Porém, escolhia a melhor das rabanadas, a mais bonita, perfeitamente dourada e ainda quente, colocando-a num prato de sobremesa, em frente ao marido.

- Está muito boa! Comentava ele por fim, afastando de si o prato, e bebericando um cálice de Vinho do Porto. Parco em palavras, e mais ainda em elogios, pronunciava o único cumprimento dirigido às rabanadas, durante todo o Natal.

E naquele momento, a filha mais velha tinha a sensação, de que a mãe daria a travessa das rabanadas, com os seus dois ou três andares, de bom grado, ao marido.

Há-de ser sempre assim que  hei-de recordar das tardes de Véspera de Natal; do meu pai e das primeiras rabanadas.

Tenha um Feliz Natal!