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Vivi essa fase da vida em que as pessoas eram mais contidas, e que compras supérfluas não se faziam regularmente, as roupas eram compradas conforme a necessidade delas, e ir às compras só por ir, tipo dar uma volta no shopping, não era programa. Portanto, as festas como o Natal e aniversários eram as únicas ocasiões em que se compravam e ofereciam aqueles extras. Lembro-me de um poncho às riscas que recebi, teria 8 ou 9 anos, e adorei. Também do mini-saco de água quente, com o desenho do Gato das Botas, e muitos outros presentes que eram apenas bonitos para mim, e actualmente impensáveis de se oferecer.
O que vejo agora é que as crianças e adolescentes têm absolutamente tudo o que precisam, e não precisam, a qualquer altura. Umas vezes pedindo, outras simplesmente partindo da iniciativa dos pais, vão adquirindo e coleccionando uma quantidade e diversidade de coisas que lhes colmata qualquer vazio. E portanto, tornaram-se muito exigentes; uma peça de roupa por si já não os satisfaz, tem que ser de determinada marca, e ainda assim, um certo modelo, provavelmente aquele que todos os da mesma idade estão a vestir. Livros? A maioria não lê. Jogos? Sucedem-se as modas tão rápidas neste quesito que já nem sabemos se o que jogam no início de Dezembro os entusiasma ainda no Natal. Resta-nos portanto... o vil metal! E pronto, lá vai uma nota ou duas dentro do envelope. Para mim este é o presente que mais me frustra e até me entristece. Para além de não dizer nada a respeito do que eu sei sobre aquela criança ou jovem, simboliza o materialismo puro e duro, e nesta época choca-me mais ainda.
Há quem nesta questão seja muito pragmático,"Olha, melhor, dinheiro num envelope e não se pensa mais nisso, está feito.", e eu até compreendo esta opinião, mas para mim é só mesmo esse o único aspecto positivo.
Tentei diversas vezes lutar contra esta tendência, mas tive que me render pelo insucesso resultante. Portanto, por tudo isto, este aspecto do Natal é também um pelo qual anseio libertar-me, e que termina com a entrada de cada um destes jovens no mercado de trabalho. É a regra na família.
Tenho que ressalvar, sem orgulho ou falsa modéstia, que os meus filhos são os únicos jovens que conheço que recebem o que lhes oferecem com igual alegria e gratidão, e para eles os livros são dos melhores presentes que lhes podem oferecer. Têm sempre uma lista deles para sugerir quando alguém lhes pede ideias.
Sinto-me tão grata por eles, quando penso nestas coisas. Foi-lhes, certamente, impresso no carácter os nossos valores, porém, não terem sido contagiados pelo mundo materialista que os rodeia, é qualquer coisa de excepcional.
Mas enfim, talvez isto seja um não-problema para as pessoas em geral, e esteja tudo bem. C'est la vie!