Há perfume para casa,
para a roupa, para o carro e para as pessoas. Não duvido que também exista
perfume para os animais de estimação, se existem roupas. E coleiras com pedras
preciosas. Coitadinhos. O ser humano gosta de ambientes perfumados, e faz de
tudo para camuflar os maus cheiros, e até aqueles que não sendo maus, são
apenas naturais, como o cheiro da própria pele.
Não é de agora;
sabemos que em culturas
longínquas no tempo, como a egípcia, as classes mais abastadas já
usavam o perfume, isto em 3.000
a.c. . Eram feitos à base de óleos de flores,
completamente naturais. Em 1370 foi feito o primeiro perfume alcoólico, para a
rainha Elizabeth da Hungria, mas nem isso o tornou acessível a todas as
classes; continuou a ser um produto refinado, destinado às elites. Ainda no
sec. XX a situação se mantinha, e a maioria da população que poderia dar-se ao
luxo de se perfumar fazia-o com água de colónia, um produto muito mais
económico.
Contudo, o perfume por
excelência era "o francês", ainda inacessível a quase todas as
camadas sociais. Eram adquiridos nas raras boutiques ou perfumarias que os
disponibilizavam, ou comprados pelas poucas senhoras que viajavam para fora do
país. Nessa época uma senhora podia passar toda a sua vida a usar a mesma marca
de perfume; essa era a sua marca. Esse aroma identificava-a, junto de
familiares e amigos. Era o seu perfume!
Entretanto, a alta
perfumaria começou a produzir massivamente, os preços tornaram-se competitivos,
o poder de compra cresceu, o que resultou num negócio que gera milhões de euros
e numa população emperfumadíssima.
Acreditem, não tenho
nada contra os bons cheiros, porém, frequentemente acho que é um abuso! Algumas
pessoas parecem despejar um frasco de cada vez que põem perfume, de forma que
deixam um rasto atrás delas, enjoativo e sufocante. No ano passado, quando
levava as crianças à escola a pé, costumávamos apanhar um perfumado destes;
invariavelmente o ultrapassávamos rapidamente ou mudávamos de passeio. Isto ao
ar livre, porque imaginem entrar com alguém assim num elevador. Ou ficar numa
sala de espera onde não cheira a mais nada, exceto o perfume "daquela
pessoa".
Há dias a Letícia
falou-me que um coleguinha " não tinha cheiro"; achei a afirmação
inusitada e conversei com ela a respeito do assunto. Concluí que todos os
coleguinhas têm cheiro, porque põem perfume, ou a roupa tem cheiro. Referia-se
ao amaciador, o que não me deixou de todo espantada, porque já tinha constatado
que a maioria das pessoas abusa do detergente e amaciador para a roupa.
Dizem os especialistas
que todos temos um "odor" pessoal, e que frequentemente é esse odor
que atrai, ou repele os nossos companheiros. Ignoro se os perfumes que
usamos camuflam o nosso odor e nos levam ao erro, nas nossas apreciações. Mas
uma coisa é certa, se eu não gostar do perfume que a pessoa escolheu,
certamente também não vou gostar do seu odor pessoal!
Na minha opinião, o
perfume deve ser colocado por detrás do pescoço, no peito e nos pulsos; onde
permanece mais tempo, e onde em contacto com a nossa pele vai adquirir
propriedades únicas. Nunca na roupa, que pode estragar, e onde se adultera. A
quantidade deve ser a suficiente para que seja sentido apenas por quem se
aproxima realmente muito de nós.
Eu tenho um perfume
mais leve para o tempo quente, e um mais profundo para o tempo fresco. Não
sendo fiel como as senhoras de outrora, gosto de dar tempo a mim, e a quem me
rodeia para me identificar com um cheiro. Gosto quando os meus filhos me
abraçam, e dizem: - Cheiras tão bem, mãe!
Ironicamente, desde
que estou em casa uso muito mais perfume; se sair de casa muito cedo, e andar
de carro ou transporte público, não posso usar perfume, porque me enjoa imenso.
Não sendo o caso, cheiro a 5th Avenue de Elizabeth Arden. Só para
mim, e para os meus!
Até breve!